quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

FELIZ MUNDO NOVO - ANO 01

Diário intraestelar de bordo.

Aviso: o mundo acabou em 21 de Dezembro de 2012. No entanto, tecnicamente ainda não ultrapassamos o último mês, Dezembro. Tecnicamente aqui os anos começam dia primeiro de janeiro.
Eu, meu teclado, livros espalhados e um ventilador que oscila quando aperto o botão estamos aguardando a chegada do ANO 01.
Engraçado. Ao teclar ANO 01 o ventilador oscilante desligou. Sem problemas. Acontece nas ligações mal feitas nos edifícios novos construídos em áreas não tão nobres, ou - para não ofender moradores como eu - em áreas não tradicionais. Mas o caminhão do morando chegou. E está gritando: "chame a mamããããe! morangos de Atibaia!! Venha logo! Estaremos atendendo outras freguesias! Morangos da mais alta qualidade! Diretamente do Produtor! Aproveite, venha logo!! O caminhaão do morando chegoooooooooouuuu! 4 caixas de morando! Só 5 reais!!! Atenção criançada! Chame a mamãããããe!". De uma certa forma, deu saudade do interior, quando nem esperávamos que o mundo acabaria. Estaremos aqui, aconteça o que acontecer. E a música do caminhão é: "beber, cair, levantar". Chame a mamãe, o papai, o titio... dá pra fazer caipiroska de morango, sabiam criancinhas? É o fim do mundo mesmo. E vamo embora sambá! Bebê, caí, levantá.

À partir de hoje e sem frequência cristã, o diário da expectativa do novo ano. O ANO 01.
Pode não ser para você, você e você. Mas, para mim, será. E por ter nascido dadivosa e altruísta, vou dividir com vocês tudo o que acontecer comigo, falando sobre mim, eu e eu mesma. Altruísmo de sobra e essa última frase é completamente desnecessária para quem entende a piadinha sem graça e oriental entre as linhas.

Al? Al, você está aí? R2D2?!

Peguei vocês! Não é delírio. É a...pe....nas....   o... fff..i...m.... d..o... po...s...t...

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Canta Brasil, canta... 1982



Simone - Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores - Canta Brasil 1982

Eu estava lá, na arquibancada. Cheia de ideais. E certezas. O coração saltando pela boca e uma garrafa térmica com café. Quem diria que em 2012 o Brasil mostraria a sua cara e que paga. E a gente fica assim. Nem a música faz mais sentido. Que dó. Tínhamos quantos? 20, 20 e poucos anos?

O mundo é uma bola quadrada que gira parada.



Zé Ramalho - Força Verde 


Em 1982 eu também estava no coquetel de lançamento deste disco. Tenho o vinil promocional. Ele é todo o verde, o LP. Trabalho fantástico e mais um pouquinho da minha história

Caetano Veloso - Queixa
Eu vivi. Fui personagem dessa música. Foi assim e foi bom.
Foi muito bom. 






segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

O IMPROVÁVEL

Provavelmente as chances de uma saída entre amigas deveria acabar do modo que começa: muita conversa e risadas.

Pouco provável acontecer algo inesperado que pode melhorar o humor e até o rumo da noite. Mais improvável ainda que a noite se desdobre em outro dia, outras conversas e muito em comum.

E foi assim que aconteceu e fiquei feliz. Estou feliz. Novos amigos improváveis, numa situação pouco provável, reunidos numa praça que eu não sabia que existia, salvando vidas, morrendo de rir, filosofando desconfiados, resolutos em confiar. Amores.

Quando nos permitimos, é simples assim. E não vou perder enquanto alegre, enquanto o que pode ser esteja sendo.Viva a alegria e viva o prazer de estar gostando de viver. E viva o rabo do tatú.

domingo, 2 de dezembro de 2012

The Body Invaders

Kevin Macarthy gritava entre carros numa highway: "Eles estão vindo! Eles estão chegando! Eles vão tomar conta de todos nós! Eles vão tomar conta de vocês!!"
 
O Filme, "Vampiros de Almas", péssima tradução para "The Body Invaders", de 1958, onde um médico interpretado por Kevin Macarthy percebe que plantas enormes e estranhas "geravam" cópias dos habitantes de uma pequena cidade enquanto eles dormiam. A coisa vai ficando de um jeito que fica difícil saber quem é cópia ou não.
 
Falei sobre o filme noutro dia, durante uma reunião de pauta, para exemplificar como as coisas poderiam ser contadas de formas diferentes, já que tudo já foi contado e o que intressaria os telespectadores seria a forma. Lembrei da refilmagem - que vi primeiro - de 1978 com David Sutherland, pai de Kiefer 24 hours Sutherland que me impressionou e como tudo que me impressiona ou interessa, vou atrás, e descobri o original, assisti e soube que havia uma mensagem subliminar sobre a "Caça às Bruxas", apelido da época em que o Senador Mcarty - não o ator - perseguia os intelecutais conhecidos como comunistas, aqueles que comiam criancinhas e um dos motivos que fez Charles Chaplin se exilar em Londres e definir quem era quem em Hollywood. Uma vez descoberta a "caça às bruxas", eu não podia parar. Tinha que saber mais. Quem entregou quem em Hollywood. E, que tristeza, a formação da lista negra com nomes de roteiristas, diretores, produtores, atores impedidos de trabalhar e até condenados à prisão por ações "anti-americanas".
 
Como nos últimos dias este modesto e humilde blog tem me servido de moleskine para que eu não esqueça de desenvolver tantos assuntos que "coincidentemente" vêm à tona, como que quicando no fundo, começam a subir, paro por aqui essa história interessantíssima e vergonhosa para os Estados Unidos, que entre suas pregações profetiza a igualdade dos povos e ser a terra das oportunidades.
 
O que mais sei vêm do cinema corajoso e dos livros maravilhosos que li e assisti. Alguns mais de uma vez. E das canções que tocava ao violão com uma certeza de que haveria de mudar aquilo tudo.
 
Talvez volte o humor inteligente, as sacadas rápidas... uma das coisas mais bacanas de não precisar relevar nem compreender quem você acreditava ser a mão que a ajudaria a subir o Everest se fosse preciso.
 
Volto, mais atenta. Mais alerta. Como a cada dia. O conhecimento é uma luz sobre a verdade. A ignorância uma covardia de quem não quer ser incomodado.
 
Ãnfãn, ces't la memme chose.

 Donald Sotherland - Body Invaders, 1978
 
Senador Joseph MCarty - década de 50

Quero escrever pra Tina Turner

 Madonna veio pessoalmente abraçar Jesus, que é brasileiro, sob a luz da árvore na Lagoa. Percebeu? Ó, ó... viu? Sentiu a ligação? heim?! Heim?!

Madonna... Jesus... Natal...  Dizem que a fila de entrada para o show estava tão grande que até o Cristo Redentor desceu o morro e estava nela. Com a sorte geográfica que geralemente me acompanha em shows, cinemas e exposições coletivas, se eu estivesse no show da Madonna, o Cristo estaria na minha frente, muito bem posicionado, e dessa vez nem pulinhos iriam adiantar.

Agora lembrei do show de Amy Whinehouse aqui no Brasil, talvez um mês antes dela morrer. Fomos eu e minha fiel companheira, Beatriz. Filha pra e parceirinha pra (quase) todas as horas. Foi a melhor forma de definir o que significava "crônica de uma morte anunciada" para Beatriz. Ver Amy no palco naquelas condições, o público indo embora antes do término do show... Mesmo assim, nos sentimos parte de um pouco da história respirando o mesmo ar que Amy Whinehouse. Não exatamente o meeeeeesmo ar. Talvez o palco não fosse tão "incensado" como a platéia. Ficamos loucas por tabela, além das cenas de sexo ao vivo sob roupas, em pé entre tropeços de Miss Winehouse. E eu achando que para os que ali estavam, Amy era o principal.

O que me fez lembrar o show de Tina Turner nos anos 80. Ela era a principal. Platéia incensada ou não, era Tina Turner no palco e todos cantaram as músicas, interagiram, surfaram na onda. Tina Turner estava por cima e eu em cima dos ombros do meu namorado. Tina acabara de lançar o disco que marcaria sua volta aos palcos, ao sucesso e ao eterno: Private Dancer, What's Love Got to to with it? Let's Stay Together, We Don't Need Another Hero... Tudo estava lá.

O que me faz ter certeza de que é muito bom ser deste tempo, neste momento.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

De Pai para Filho - Dos dois para mim


Conheci Gonzagão e Gonzaguinha pessoalmente. Era década de 80, quase 90, bandas de rock surgindo aos montes para diversão e contemplação social de um lado, e a MPB com força total enchendo nosso peito de orgulho e mágoa pelos acontecimentos que as letras nos faziam lembrar e às vezes conhecer. As mulheres ainda eram reprimidas (que novidade!) a tal ponto que não tinham quase voz, e quanto menor a camada social, pior a situação. Os hoje merecidamente cultuados como Jair Rodrigues, Luiz Gonzaga, o Gonzagão, Wilson Simonal, Angela Maria, o magistral, único e absoluto Cauby Peixoto entre tantos outros que escreveram a história musical brasileira e ficarão para sempre, eram os "bregas" e fora de moda. Tirando a generosidade de alguns conceituados que aceitavam nossos convites para uma entrevista franca e cultural num programa popular (a maioria saía surpresa com a qualidade das perguntas e da condução das apresentadoras).

Conheci muita, muita gente. Não tirava fotos porque, jovem, idealista, me interessava o olho no olho, a conversa nas salas VIPS antes de entrarem em cena.

Assim conheci o Rei do Baião e toquei sua indumentária, apoiei o que chamamos no interior de sanfona para que ele pudesse "vesti-la" e rimos muito. Gonzagão era bem humorado e franco. Ouvi e vi shows à lá carte durante as entrevistas, sempre ao vivo.

Quando conheci Gonzaguinha, conversamos muito, muito mesmo. Nos divertimos também. Era quase copa de 1990 e um dos patrocinadores do programa "Mulheres", o Romão dos sapatos, distribuía bolas de couro ainda de capotão para os convidados, funcionários, todos. Romão sempre foi muito generoso e festeiro. Enquanto conversava com Gonzaguinha sobre futebol ser isso ou aquilo e ele dizer que ainda assim adorava, pedi um autógrafo na minha bola. Ele deu, escreveu carinhosamente o que não me lembro mais. Deveria ter essa bola comigo até hoje, mas meu sobrinho tinha 4 anos, ou menos, e foi pra ele quem eu dei a bola autografada por Gonzaguinha. Claro, ele acabou com a bola em pouco tempo e não gostou de vê-la rabiscada.
Ricardo, você jogou futebol numa bola autografada por Gonzaguinha. De uma forma ou de outra, a cultura sempre esteve perto de você e suas irmãs, e me orgulho de ter tido parte nisso, mas a bola do Gonzaguinha... até hoje não me conformo de tê-la dado à você, hoje músico. Talvez tenha alguma coisa  a ver, espero que sim. Por que nunca quis tanto aquela bola como quero hoje.
Eram outros tempos e tudo seria infinito! Quando começaram a apagar as fitas do programas gravados, quando Chacrinha, Gonzagão, Jorge Amado e Zélia Gatai, Gonzaguinha e tantos outros foram sendo devorados por comerciais ou outros programas gravados por cima, eu já deveria saber.
O infinito não existiria.
Há pouco tempo ouvi que era iludida. E concordei. Acho que sempre fui.
Mas aquela bola... como eu queria aquela bola...

sábado, 10 de novembro de 2012

ALGUM PROBLEMA?!

E o letreiro sobe ao som de "Baby", by Justin Bieber: 
HÁ ALGUNS POUCOS ANOS...

- Como assim, não gosta do Justin Bieber?
- Ué... não gosto.
Os olhos saem da tela do noteboook e vão diretamente para  os almofadões onde ela  está deitada enquanto mexe no celular.
- Toda menina da sua idade gosta do Justin Bieber!
- Eu, não.
- (...)
- Nem um pouquinho?!
- Não... talvez.
(...)
- Filha, tem alguma coisa que você queira me falar?
- O quê?
- Não sei! Se é você que tem que me falar!
- Eu não tenho nada pra falar!Você que perguntou!
- E você não respondeu! Ta me escondendo alguma coisa...
- Ai, lá vem você...
- Viu?
- Viu o quê, mãe?!!
- Eu conheço esse "lá vem você..."!
- Meu, como você é chata!
- Chata? Preocupada é ser chata?!
- Ta peocupada porque eu não gosto do Justin Bieber, mãe!!
- Toda menina da sua idade gosta do Justin Bieber, pelo menos fala do Justin Bieber, do cabelo dele,  qualquer coisa!
- Mãe! Eu. Não. Gosto. Do. Justin. Bieber! É só isso!!!
- Isso não é normal... Você falou isso pra sua psicóloga?
- Claro que não! Tem coisa muito mais importante pra falar...
- Como o quê, por exemplo?
- Não quero falar sobre isso.
- Viu! Tá escondendo alguma coisa!!
- Não acredito...
- Como é que eu vou saber se você não quer falar a respeito?
- Ai, me cansa, viu!
- Quem? O que? Eu?!
- Mãe, você não tem que trabalhar, não?
- Dá pra trabalhar com você com um problema desses?!
- Meu Deus do céu!!! Que problema?!!!!
Agora é olho no olho, sem note, sem celular e sobrancelhas arregaladas de ambas as partes.
- Sei lá! Não gostar do Justin Bieber... é... é... sintomático!
- Manhê!! Quem é que põe Elis Regina pra eu ouvir desde pequenininha? Queen?!
- Ah,,, eu sabia que a culpa ia cair sobre mim, eu sabia,.,..
- Você tá neurótica, mãe! Pelamôr...
- (...) Que agressividade gratuita...
Leve ranger dos dentes. Maxilares em movimento, olhos no celular.
-  Da Breatney você gosta?
- Algumas coisas
- Hm... menos mal. - volta para o notebook
- Não acredito que você ta fazendo isso...
- Fazendo o quê? - volta para os almofadões
- Criando um caso por causa daquela... daquele...
- Você gosta dele! Ta falando nele!
- (suspiros profundos) A que horas o papai chega, heim?!
- Por quê? Não quer ficar aqui comigo?
- (suspiros mais profundos ainda com um leve olhar para cima) Eu não disse isso... mãe, qual é o seu problema?
- Eu? Problema?! Quem disse que eu to com isso? Foi você que falou do seu pai!
-  Eu-só-perguntei-quando-ele-chega!
- ÊÊÊ... calma! Não sei porque você é tão agressiva às vezes!
- Quer que eu te conte?
- Que olhar é esse? Ta me escondendo alguma coisa... eu sei que está.
- Não, mãe, não to escondendo nada, só estou sem saco!
- Aí, agressividade de novo... que foi que eu fiz de errado? Ou melhor: Onde foi que eu errei?
- (...)
- É Justin Bieber que você ta ouvindo?
Mais uma reviravolta de olhos
- Todo o mundo ouve Justin Bieber, mãe...
Ambas as mãos cobrindo a testa.
- Eu não to entendendo nada!
- Ouvir não é gostar! De que mundo você é, pelamôr, mãe, qual é o seu problema?!!!


domingo, 4 de novembro de 2012

Cadê você?


quarta-feira, 17 de outubro de 2012

MURRO EM PONTA DE FACA

É desse ator extraordinário; pessoa inigualável; pensador corajoso, respeitado com o qual a amizade ainda que tênue me transborda de orgulho, Juca de Oliveira a peça: "Às Favas Com os Escrúpulos"  que me inspirou a escrever e... às favas com os julgamentos! Às favas com você!

Sou fã incontestável dos nossos artistas e intelectuais corajosos por várias razões, mas a principal delas é o meu comedimento. Quando leio, assisto, vejo, ouço o que gostaria de dizer e não disse e outras atitudes à menos, é quase uma diáspora entre eu e eu mesma: grito com o punho cerrado: "isso!", e também abaixo os braços e murmuro: "por quê eu não disse isso?". Ou: "por quê não estava lá?",  ou tantos outros porquês que fazem da frustração um sentimento irritadiço, desconfortável. Não me acho, me perco entre tudo o que podia ser. E, acredite, foi preciso muita coragem para registrar isso aqui, em público.

Admiro, admiro, admiro, sim! E por isso busco saber sempre mais e melhor do que sei, conhecer, atravessar, trocar, partilhar. Nesses momentos lembro que já fiz e fui "combatente da verdade", defendendo com unhas e dentes um partido que vi nascer, chorando com as histórias da repressão que livros lisérgicos como "Sangue de Coca-Cola" de Roberto Drummond impregnavam em mim. Ao mesmo tempo que escrevia roteiros de cinema, desenhava personagens e sentia cheiro de acetato e tapadeiras e tintas látex e outros aromas que me davam a certeza de que seria uma voz importante naquele futuro próximo. Como eu amava  o que fazia! Como eu amava o que eu era e "tudo o que podia ser sem medo"! Eu me amava. Sério.
Tão certo quanto dois e dois são quatro, meus filmes dariam o que falar... meus livros polêmicos gerariam novos roteiros e eu assistia novelas e séries pasteurizadas como nunca. Como nunca fui radical. Como nunca. Como nunca senti tanto prazer em ser. E não ser. Nessa época além de me amar, eu estava amando, como acho que também nunca mais amei na vida. Claro, isso só se descobre depois de um tempo. Sei lá porquê. Ou sei, mas isso são outras favas.
Hoje, quando já vivi mais do que aparentemente vou viver daqui pra frente, dá um aperto no peito! As histórias que se passaram e mudaram meu suposto destino incontestável penderam mais para Janete Clair do que Goddard. Ah, mon coeur, nunca é tarde para recomeçar! Claro que não. Principalmente no Brasil. Nunca é tarde pra nada quando você tem seus 25 anos. Pior é saber que o tempo que foi preciso para costurar os furos nas meias poderá fazer falta daqui em diante. Pior é estar resoluta e viver nesse paradoxo entre o que SEI e QUERO fazer e não dar um passo porque La Clair ainda ronda meus caminhos. Tenho orgulho dela também. Do que fez. Gosto de tudo o que gosto, não me importa rótulo ou fórmulas. Gosto e gosto de gostar. Lembro de um filme que contava a história de três mulheres que deram um chega pra lá na vida e foram se encontrar. Uma delas deixou a filha pequena com o marido e foi, simplesmente foi. Minha filha não é mais pequena. Quando era jamais pensei em ir. Agora, não sei... ela parece tão forte e ao mesmo tempo tão precisada... Filha de pais diferentes, uma linda garota de personalidade e capacidade de observar a vida com sensibilidade à flor da pele. E sabe pregar pregos! Eu entorto todos.
Falando em filmes, é como se estivesse no meio da ponte de "A Felicidade Não Se Compra" (It's a Wonderful Life - Frank Capra, 1946)  mas com outra intensão: escolher para qual lado caminhar. Esperando um anjo atrapalhado salvar minha vida com um simples: "vem pra cá!". O que esperar quando você está esperando? O tempo passar, minha filha... (eu li o livro, sim. E vem filme por aí).
A coragem pelo menos está voltando. Já não estou tão contida como antes e preciso me segurar para não dizer o certo na hora errada. 
Agora, saber o que pode dar certo, saber fazer, saber o que vai acontecer, ter experiência e vivência suficiente para discernir o prestígio do jocoso e não poder, é mais uma vez na vida dar murro em ponta de faca. It's killing me!
Esse é o meu dilema atual. O que tem me tirado o sono. O que não me deixa escrever e que tampa a fluidez das idéias. O grande ataque das formigas gigantes assassinas prestes à acontecer e poucos acreditarem que um torrão de açúcar pode acabar com a formiga rainha mãe (existe isso? se não, é uma boa idéia para um trash) e assim salvar a humanidade de dentro da tela.
Preciso criar.
Preciso fazer a verdade.
A Volta da Graúna - Henfil (Geração Editorial, 2003)

domingo, 9 de setembro de 2012

O SOFRIMENTO NÃO É OPCIONAL

Apesar deste tapa na cara, da ardência em meu rosto, meus amigos sempre serão porque um dia foram tão mais importantes me ensinando que não há desprezo quando é o coração quem fala. Sinto falta. Principalmente nos domingos ensolarados, da praia, gargalhadas e histórias. Fazer o quê? Ninguém pode acusar por não respeitar escolhas. Amarei, mesmo assim.

Ta ardendo.

By the way, a questão do sofrimento ser opcional, vem de uma frase bastante conhecida: "a dor é inevitável, o sofrimento é opcional".  Embora tenha curtido muito e aclamado que a frase era uma lição de vida, não concordo mais. Como alguém que sente dor consegue o equilíbrio sapiente  para  tamanho desapego e dizer que dói, mas não sofre?

São irmãos, esses dois. A dor e o sofrimento. Você aprende a domar o sofrimento, que só vai embora quando a dor acaba, ou se acostuma.
Volta-se a sorrir, a postar alegrias, frases de efeito, fotos com todos os dentes à mostra, a conversar de igual para igual, sorrir. Isso é maturidade, não é escolha. É necessidade. Para continuar numa trilha desconhecida, sem sinais, às vezes pavimentada outras, não.

(...)

A verdadeira opção é o quanto você vai pesar na mão do sofrer e quanto vai durar. Se vai deixar o gêmeo de lado e esquecê-lo lá e não encará-lo; refutar sua existência e principalmente sua importância e esperar que o tempo faça o seu papel.

E aí? Vai ou não vai?

Mas que vai, vai. Mas que vai, vem.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Estudo Prático Sobre Relações Amorosas

É prático porque será rápido. Será rápido porque está tarde e não se deve perder uma ideia ou pensamento para o sono ou sonho que não será lembrado.
Depois de muito perguntar "por quê? por quê?", é bastante provável chegar à conclusões não necessariamente absolutas e verdadeiras, mas verdadeiras, absolutamente, sim. Verdadeiras.
Assim: existem duas fórmulas para que um relacionamento à dois seja forte e, com sorte, inesquecível. Talvez três. Estou em dúvida sobre a terceira. Mas convicta sobre as duas.
Número um: a mais sonhada e desejada desde que Adão precisou de Eva para educar os filhos que se mataram. Quando se tem muito, mas muito, muito carinho e atenção um pelo outro, é mágico. É um cuidando de um. Respeito, afeto e carinhos trocados a todo momento. Vai durar.
Outro é o oposto: quando se briga passionalmente, quando o indizível refluxa sem controle, quando as próprias dores tomam nome e forma e a paz é o reencontro, o abraço e o amor em dois num estado pós-desgaste que só encontra descano nos braços um do outro.
Duas formas opostas de amar inesquecivelmente.

A terceira é o proibido. Como "proibir" e "proibido" são emocionalmente controversos, tenho dúvidas. E sua história só é tatuada no imaginário, no que se pensa ser ou ter sido, no que se queria que fosse. Ou seja: não existe, não perdura na prática. Apenas no inconsciente platônico e assim será desde que não seja vivido. O proibido vivido pode ser o passional, o inesquecível, o um cuidando de um com as dores com nome e forma na paz do reencontro. O proibido vivido também pode ser a salvação e assim justificar-se, valorado como herói salvador de moralidades.

Quem sou eu para dizer essas coisas?
Uma, cuidando de uma. Expectando. Recalculando. Renomeando. E bebendo muito vinho esta noite.

sábado, 25 de agosto de 2012

A MULHER NUA - a xícara, a colherinha e o café

Redemoinhos. Talvez fosse um exagero definir assim os efeitos da colherinha na xícara de café. O líquido rodava, anyway. 
A espuma cor de creme se desfazendo a cada volta tornado-se café de novo. Tinha mania de observar coisas irrelevantes  - como a espuma, o café e a colherinha - e tentar tirar dali alguma grande ideia ou revelação. Ou por não haver nada mais interessante do que o irrelevante. 
Geralmente era assim. As vozes na praça de alimentação eram tantas e tão iguais que lembravam o templo budista onde "comemorou a vida" de seu pai um ano após sua partida. O oposto. O som do shopping era ácido, irritadiço. Uníssono, como o do templo, mas absoluta e definitivamente distinto deste. 
Mais do que o contrário um do outro. Enquanto o templo lhe trazia uma noite de verão de calmaria praiana e briza,  a perfeita conjunção de vozes formavam o "oooommmm" pacificador, calmante; os uníssonos da praça de alimentação eram afiados, desiguais, misturados, distintos e o som... o som era impronunciável. Uma tentativa forçada talvez trouxesse uma série de "aaaaaaaaasssaaaooiioaaaaa". Um grande "asssaioiiiaaa" que não significava nada. Até o bater de pratos, copos e talheres eram suprimidos por aquele som alto, irritante, frenético, apressado.

A xícara, o café e a colherinha deixavam de ser irrelevantes nesse cenário. Eram quase  salvação para a péssima escolha - ou falta dela - de estar na praça de alimentação de um dos shoppings mais movimentados da cidade mais movimentada do país para pensar no que tinha acabado de acontecer.

Lembrou de Leonardo: "as ruas tinham que ter caixas de som espalhadas em todos os postes! a vida tinha que ter trilha sonora!". Sorriu com ternura, discretamente, de sí para sí e para Leo e suas idéias e entusiasmo para transformar o mundo.
Tomar café sozinha num lugar daqueles...  Geralmente quando se decide ficar sozinho para pensar, o cenário é outro. Nos filmes e livros é outro. Neles funciona. Pelo menos nos filmes. Há Paris, Nova Iorque, uma grande janela fechada para a neve enquanto se balança a xícara com o líquido quente mirando a paisagem branca e gelada do lado de fora. Nos filmes alemães, pode-se sentar na sacada de casa, com toucas e luvas feitas à mão. E cachecóis. E polainas. Os sons dos carros são outros. Os pneus na neve fazem outro barulho e há as árvores que mudam o som ambiente.
Um golinho no café e já estava de volta ao shopping. Lá não fazia frio, nem calor. A temperatura era sempre "agradável". Se estava frio, no shopping era confortável. Se era calor o que sentiam os frequentadores do lado de fora, dentro era um alívio.
O dedo indicador tocou o biscoitinho ao lado do café. O preço do café teria a ver com o biscoitinho? Não... o condomínio, aluguel... Outra coisa que nunca imaginou que iria compreender: o outro lado. O lado de quem faz. Quem paga, quem emprega. Dane-se.
Não queria o biscoitinho. Não queria que o café acabasse. Queria sair dali. Pior não saber pra onde ir. Pior ver tanta gente aparentemente sem problemas, ou com os mesmos problemas, tanta gente e ninguém.
Shopping é o lugar com mais habitantes por metro quadrado ideal para se sentir só.
Pensou em ligar o celular, ver as últimas postagens, curtir algumas coisas. Mas aquilo, naquelas circunstâncias, lhe parecia o próprio shopping. Gente suficiente para sentir solidão quando não vai rolar a festa. Rede de relacionamentos sem relação com os sentimentos ou verdade. Nossa... que chatice. Mais um gole no café e pronto, a Rede de relacionamentos voltava a ser uma prática agradável. Claro que amigos só inbox ou pelo bom e velho e-mail... Alguém podia inventar o que falta: carinho na tecnologia.
Desistiu do celular na primeira frase de incentivo e lição de moral que viu compartilhada em seu mural. Se todos realmente seguissem o que espalham, talvez ela não tivesse que decidir ali, daquela forma, algo tão importante. Certamente, se Leonardo ainda houvesse, trocariam mensagens o tempo todo. Ouvi que saudade é atestado de que se viveu coisas boas. Acho que é mesmo.
O último gole. Uma xícara pequena para tantas intensões. Ao baixar a xícara vazia para o pires, olhou o biscoitinho. "aaaaiioooonaaaaaaaaioooaaaa". Já o estava mastigando enquanto caminhava de volta para o estacionamento. Nada como uma boa xícara de café num péssimo lugar para trazê-la de volta à realidade simplória e remodelar os problemas para os seus devidos tamanhos. Pelo menos por enquanto não havia mais nada para decidir.


25.08.2011

domingo, 19 de agosto de 2012

A MULHER NUA - (parte)


- 140?!!
A receita ali, ao lado do computador. A atendente  não parava de teclar. Os olhos fixos na tela.
- Cada caixa.
- !!
Pensou no barulho das máquinas de escrever.
- Posso conseguir um desconto pra senhora... deixa eu ver...
Massageou o rosto com as duas mãos, como no tempo que usava lentes de contato e não podia tocar nos olhos, lavando o rosto sem água. Teclava. Se fosse máquina de escrever a farmácia pareceria um cartório. Cartório de hoje já parece farmácia. Se fosse máquina de escrever não estaria na farmácia. Olhou para os lados e, vencida, segurou o rosto entre as mãos, os cotovelos no balcão. Máquina de escrever, farmácia, cartório... É. Talvez o remédio fosse necessário. Opinião médica. Já passava da 3ª., então não havia mais como resistir.
140 cada caixa. Dois comprimidos por dia, vezes  x comprimidos... 3 caixas.
Talvez devesse ir ao cartório. Ou à Bienal. Ou à Patagônia. Viu uma foto de sua tia na Patagônia. Todo o mundo diz que a Patagônia é linda. Talvez o dinheiro fosse melhor gasto.
- Em quantas vezes?
- 3, no cartão.
A carteira imensa se perdia na bolsa maior ainda, cheia de zíperes  e partições. O som agora vinha de uma TV fixada no alto da parede. Momentos decisivos de uma novela de  sucesso. Quando não olhavam para as telas do computador, era para a TV toda a atenção da farmácia. Melhor assim, o constrangimento de procurar a carteira por tanto tempo, ficaria entre ela e a bolsa enorme. A carteira que também tinha mais partes e zíperes e muitos, muitos cartões: de pizzaria, serviços, grandes ex-amigos. O que ainda faziam lá? Há tanto tempo não precisava daquele departamento da carteira. Decidiu: chega de teias e aranhas, chegando em casa, jogar tudo fora. Para dar espaço para coisas novas.
- A Sra. Faz um favor? Preenche o cadastro pra gente? Assim recebe nossas promoções!
Sobrinha de farmacêutico alemão e dono de loja árabe, promoção era coisa do tio do Oriente. É estranho, ainda é estranho. Tudo se transformando em loja de conveniência 24 horas: até farmácia. Pior se as promoções forem de remédios. Imaginando receber folhetos do tipo:  “mês da neosaldina! Leve duas e pague 3!”; “dipirona em liquidação: imperdível!”.

Estava difícil encaixar seus sentimentos naquela realidade. Difícil entender porque sofria tanto. Porque não dava de ombros à tudo e se isolava numa praia, na serra, vivendo com o som da natureza, poucos diálogos humanos e sendo amada por cães ou gatos que dão carinho em troca de nada. Claro, com um bom computador para não perder o contato com o mundo, e para que o mundo soubesse de sua vontade de ser ouvida, compreendida, reconhecida, ainda que preferisse um status à  lá Garbo. Talvez não preferisse. Talvez estivesse sendo empurrada para a solidão. Talvez entendesse melhor Greta Garbo agora, desglamourizando  a frase.  Era real, era sua vida também. “I want to be alone”. Como se já não estivesse. Talvez ela já estivesse sozinha.
- Vai em 3 mesmo, senhora?
Estranho ser chamada de senhora.
- Sim, por favor.
- (...)
- (...)
- Senhora?
- Sim?
- A senhora poderia me dar o cartão, por favor?
- Ah! Claro... desculpe.
- Imagine, senhora.
Senhora para mim era a Nossa Aparecida e minha mãe. Minhas tias, qualquer mulher que tivesse mais do que 30 anos quando eu tinha 10. Senhora hoje, no modo como as pessoas se tratam, é quase uma ofensa. Um cinismozinho básico. Melhor que “Tia”. Mas a moça do balcão nunca a iria chamar de “Tia”. “Vai em 3 mesmo, Tia?”. Nem no cartório. Só na rua. Nem na rua. Na rua era Madame, Colega, Chefia... tudo porque estava dentro deum carro. Dentro sempre de alguma coisa, ou de alguém. Queria estar do lado de fora. De alguma coisa e principalmente de alguém. Daí vinham as dores. E se abrisse a porta do carro, saísse? Economizaria quase 400. Não haveria mais dor, será?
Greta Garbo sabia das coisas. Muita gente sabia das coisas. E sabe. Por que eu não sei? Se perguntava enquanto levava a cestinha para o caixa. Deu uma espiada na novela, estava quente mesmo. E a chamaram de Senhora, cumpriram seu papel  no atendimento. Tudo certo.  O teclado, o “zuiim” da maquininha cuspindo um papel amarelo avisando que ela estava 400 mais pobre. O carro. O suspiro. O não querer ir e não ter opção. Ligou o rádio, mudou a estação. Ligou o carro e queria mudar o rumo. Fez a curva, atravessou o farol amarelo e seguiu pelo mesmo caminho que a levava todos os dias para dentro. Com 400 contos a menos na conta.


19.08.2011

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

ONONONONONONO


domingo, 29 de julho de 2012

PEDRO PAIXÃO

(copiado e colado de meu amigo Fernando Cardoso, sempre preciso ou coincidente com meus momentos, postando palavras, trechos de livros, filmes e textos próprios excelentes. Mas esse... esse me acarinhou, estranhamente. Obrigada, Fernando)

Minha Vida (do livro A Noiva Judia de Pedro Paixão)

Quase gosto da vida que tenho. Não foi fácil habituar-me a mim. Tive de me desfazer das coisas mais preciosas, entre elas de ti. Sim, meu amor, tive de escolher um caminho mais fácil. O dinheiro também tem a sua poesia. E tenho tido sorte. 
Deixei para trás a obrigação de mudar o mundo. Corrompi e fui corrompido. Ainda sinto dificuldades em mentir, mas também aqui vejo melhoras. Trata-se só de deformar ligeiramente o que vai acontecendo, não de inventar tudo de novo. Tenho alguns anos diante de mim e depois quero acabar de repente. Não sei se valeu a pena mas também não me pergunto se valeu a pena. Há coisas assim.
Não é desistir, é só não dar demasiada importância a coisas que não a têm. Esta vida é uma delas. Ganha em valor quando deixamos de a encarar como o centro de tudo. É só por acaso que gostamos das flores e do mar. Claro que é um bom acaso. Mas mais do que isso não.
Quase gosto da vida que tenho. Quando a quis toda não gostava de mim. Agora há dias em que aceito que o tempo passe por mim e me leve para onde só ele sabe. Não entendo como nunca houve uma religião que adorasse o tempo. Será possível imaginar algo de mais elementar e poderoso? Que com ele não se possa falar não me parece um defeito. Há coisas das quais, de qualquer modo, não se pode falar.

sábado, 28 de julho de 2012

YUSUF ISLAM

Cat Stevens embalou minha vida assim como tantos outros: no "momento instante". Interessante a época do ecletismo das rádios: suas ondas sempre irradiavam a canção certa, no momento certo. Nenhuma música me traz lembranças ruins. Emocionais, sim. Sempre. Algumas melancólicas, outras saudosas, outras ainda tão alegres que volto pra melancolia porque dentro do carro fechado não dá pra sair dançando. E se desse, talvez neste tempo eu não o faria. Um querido amigo compartilhou um link no FB com a frase de Nietszche: "Sem a música a vida seria um erro". É assim pra mim. É assim que deixo fluir e o som vem, o cantor, o grupo, a música, o momento. Um cheiro, uma imagem, um "alô" me traz uma canção.
Cat Stevens tinha o dom... é dele a trilha sonora de um dos filmes que mais me transportam aos 70's: "Harold and Maude" (Ensina-me a Viver), com Ruth Gordon.
E foi exatamente no final dos anos 70 que Cat Stevens converteu-se ao Islamismo e adotou o nome de Yusuf Islam. Chegou a abandonar a música para dedicar-se à filantropia e serviços humanitários. Voltou. Esse vídeo aí embaixo é de 2010. Pesquisem. Vale saber de sua história. De origem inglesa, foi impedido de entrar nos Estados Unidos da América no Governo George W. Bush na época em que a neurose coletiva tomava conta do país após os ataques de 11 de Setembro na clara demonstração de preconceito e horror à qualquer fato que lembrasse o Oriente Médio. Mais clara ainda a demonstração de ignorância de um governo desastroso, sob o comando de um presidente maculado por 'boatos" de fraudes eleitorais.
Mas ouçam a música. Assistam os filmes. Curtam Yusuf (Cat Stevens) Islam. Paz e harmonia. 

Wild World

A próxima ganhou até uma versão em português com Nara Leão.
Father and Son

A versão com Nara:
Pai e Filho

E, para finalizar, um...não dá pra dizer "clássico" quando o assunto é artistas como Yussuf - Stevens, mas uma de suas composições mais conhecidas:
Morning Has Broken




para saber mais (apesar de enciclopédia livre, o wikipedia tem páginas bem legais, essa é uma delas)
http://pt.wikipedia.org/wiki/Yusuf_Islam

segunda-feira, 9 de julho de 2012

OS PRIMÓRDIOS DO SLOW MOTION e DA EQUIPE IDEAL

Foi na TV Gazeta de São Paulo que vi pela primeira vez esse equipamento. A década era 90, século XX. Aliás, nos corredores da TV Gazeta em São Paulo estão câmeras do início da TV, uma grande homenagem,    sorte dos alunos da Fundação Cásper Líbero que conseguirem perceber a importância de sí.
A forma de reprisar em slow motion (câmera lenta) um programa ao vivo era essa: 
na "sorte" ou no "feeling" (um chute a gol ou um ataque perigoso, por exemplo), acionávamos a traquitana, que gravava, decodificava (não me pergunte como) e exibia como se fosse um reprodutor de vídeo tape. Vou pedir ajuda ao grande Diretor de Imagens Américo Bittar, meu colega de tantas venturas e desventuras. Ele deve saber como funcionava isso. Era fascinante. Ainda é. Tudo ainda é fascinante.

De quebra, a estrutura ideal de uma televisão. Na gringa. 
Aqui nos adaptamos muito bem, mas a esmagadora maioria dos profissionais existe até hoje. Sofware nenhum substitui o operador. A tecnologia veio para facilitar-nós, criadores, conceber suas criações sem precisar pendurar uma câmera num guindaste. Sempre digo isso. Procurem. Quem é de TV sabe. Quantos desses profissionais a tecnologia extinguiu? 

CHROMA KEY e ILUMINAÇÃO

A Foco Filmes mandando muito bem, partilhando conhecimento. Há mais vídeos no youtube para quem gosta de Direção de Fotografia ou quer saber mais sobre iluminação para vídeo. Simples e básico. O início para a viagem das cores, sombras, janelas, raios solares, reflexos lunares e muito, muito mais. Direção de Fotografia é maravilhosa, mas tudo tem o seu começo, como diria Luiz Melodia e Zezé Motta: "é preciso aprender".


Procurem a parte 01 e 03. Simples assim.
www.focofilmes.com.br





domingo, 8 de julho de 2012

GRAVATAS E BRAVATAS

Ser, estar, permanecer equipe

Agradecer as oportunidades e honrá-las com o melhor de sí é requisito essencial para um trabalho pelo qual possamos nos orgulhar. Questiono por que meus planos mudam. Por que planejar não existe para mim. Por que vivo o que a vida me propõe e não digo não ao sim e digo sim ao não (caetaneada pura agora, heim?).
Porque sim, e pronto não está. Nunca estamos. É preciso decidir sempre e arcar com consequências ou colher os frutos da boa escolha. Pratico sim gratidão todos os dias. E às pessoas que o universo põe na minha frente, distraidamente, para que eu perceba com meus super poderes de humana comum a importância do momento. Somos todos assim. Ou não?  O melhor de tudo é a união. Seja de que banda for, união. Ninguém faz nada sozinho e juntos alcançaremos os projetos, os planos alterados e até os planejados. Amor.

terça-feira, 3 de julho de 2012

ANALÓGICOS E DIGITAIS

Teatro é teatro. É e pronto. Já pisei em palcos algumas vezes e a visão que se tem do lado de lá é indescritível.  Atores e atrizes de verdade sabem. Eu, por exemplo, estou prestes - há alguns anos, já -  à me matricular numa escola de teatro por amor. Sei das minhas limitações e apesar de reconhecer que sempre é e há tempo de recomeçar, não é o caso. É paixão por tudo o que se refere a arte. É como seguir uma religião que traz um pouco de tudo, de todas, dos mistérios e da ciência. Sei que vou viver menos do que vivi até aqui, assim aposto na intensidade do tempo - longo espero - que resta. Fico triste com notícias dos que se vão, e há tantos ultimamente. Em todas as áreas. Fico mais triste ainda  em perceber que tantos que participaram da construção da história da arte dita popular ou de massa neste país, estão esquecidos.

Alguns poucos heróis tentam resgatar a história da TV, que no seu início abria as portas para todos e que hoje são grandes nomes atrás e na frente das câmeras. Mas há um sem número, um sem fim de participantes reclusos por um motivo ou outro - e desconfio o que seja porque já desisti de fazer televisão umas 5 ou 6 vezes e acabo voltando porque é minha vocação. Onde estão e o que fazem as pessoas que habitaram algum dia o inconsciente dos telespectadores? Que guerra é essa por audiência e contratos onde talentos são esquecidos? Que decisão é essa de novos e sempre novos atores? O Brasil já não é um país jovem e vem envelhecendo ano a ano. Mas ainda há mais jovens hoje do que quarentões. A troca de idéias sobre o que já aconteceu é difícil. Sempre o interlocutor mais vivido acaba dando aulas e contanto histórias, o chato, o desagradável. Difícil, mas divertido. Quando esse povo se encontra, gargalhadas na certa. Analógicos num mundo digital, são muito mais engraçados. Penso que viver de arte no Brasil é tão difícil que não entendo a desunião de quem a faz. Quem é de cinema, é de cinema. Quem é de teatro, é de teatro, quem é de telas e tintas, é de galerias.  Raríssimas exceções dos que estão acima do bem e do mal. Não falo dos artistas de rua, nem dos que desprezam a mídia. Falo da mídia, sim. De quem ela não vê e consequentemente, o artista passa a "não existir"  para o povo de seu país; apenas nos nichos que os acolhem, respeitam e assim vivem entre sí sem a partilha do belo, do novo, do pensamento..., Reconhecer e misturar, conversar sobre o país, sobre seus rumos, sobre nossas produções, nossos quereres na certeza de que ainda podemos. Nos recluímos como se o tempo passado também o tivesse . Por opção, ok. Jamais por falta dela.

A educação em peso estava em greve no país e quase nenhum canal falou sobre. E se falou, foi sem destaque. Hoje milhares de professores estão repondo aulas aos sábados. É disso o que precisamos? Ta afim de saber a verdadeira verdade?
Essa coisa de "artista", viver dela e nela nos conquista para todo o sempre. Somos todos artistas, eu creio nisso. Mas em TV acontece o peculiar. Basta um crachá escrito "imprensa" para que em qualquer setor o colaborador sinta-se o próprio anything.. Alguns lembrarão do Bozó (salve Chico Anysio!). É cultura de massa? Que seja! É a mesma cultura de massa que volta a produzir obras primas com fotografia e texto impecáveis, como em Gabriela. Sempre haverão críticas e sempre é tempo de reagir. Tempo de usar a internet, os canais web, as facilidades para fazer acontecer o que se acredita. Hoje em dia há essa chance. Muita arte e cultura sendo feita e não divulgada. Há pesquisas que afirmam que o brasileiro está preferindo a iternet à televisão. Que assim seja e que democratizemos a arte socializando a informação.

Há  poderosos, "chiques"  e os business men por trás, ao lado, na frente de tudo. Somos poucos e talvez fortes. E desunidos... Nesse palco que é a vida, onde bancos, banqueiros, periguetes, lojistas, motoristas e secretárias de dentistas vivem interpretando, sonhando com uma vida com poucas possibilidades de acontecer, imaginando ser alguém que não são; temos muito o que fazer. Juntos.

Onde estão vocês? Quais os papéis que interpretam no palco da vida?
Onde estão vocês outros, que já foram sucesso e arrebentavam quarteirões e sequer podiam sair nas ruas? Quem é que está atrapalhando seus talentos? Quem os decepcionou? Quem os fez desistir?

Não podemos. Vamos articular nesse pequeno quadrado que estão usando pra ler, e mostrar o que sabemos sobre viver, interpretar, cantar, criar, contar. Nossas histórias. Suas histórias.

Pessoa dos anso 70, 80.,90... você é jovem! Jovem de alma e conteúdo. Vamos partihar, educar como podemos os teleguiados;  enfrentar o Golias.

Não acredito estar solitária nessa batalha de recuperar nossa história, de não ter feito tudo o que poderia ser feito. "Tudo o que você podia ser, sem medo". Fui deixando. Não quero mais. Atores do palco da vida e suas reviravoltas, uni-vos!.

Nós somos muitos, não somos fracos.

Com todo o meu respeito e admiração.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

SOUND AND VISION

"Sound and Vision" é o título de uma canção de David Bowie do álbum de mesmo nome, se não me engano.  Podemos googar e ter certeza inclusive da data: 1976-1977. Diz o refrão: "você não se questiona às vezes sobre som e visão?". Sim, o tempo todo. Som e imagem são umas das partes mais importantes de mim. Antes mesmo de me tornar e ser. Tudo que estivesse relacionado às cores e canções, juntos ou separados, pequenos ou grandes, obras primas ou rudimentares sempre foi por mim sorvido como um combustível, como um alívio, prazer, deleite, dever, desejo, calma, alegria, crítica, desabafo.
Sound And Vision (David Bowie - 1977)
Som na caixa!
Naturalmente assim. Simples assim. Outras partes importantes de mim precisam de sound and vision para a materialização. Um texto, crônica, livro ou roteiro por exemplo. Nascem do story board que se forma no intelecto e transforma. Quando não é assim, é sentimento puro sem filtro, o que é um perigo. Guardemos esta parte em cadernos de anotações, não em computadores vulneráveis. Outras partes importantes de mim. Como já disse (acho que disse), sou plural, não radical. Quando vejo trabalhos bem feitos me faz um bem! Livros, Filmes, Peças, Músicas... Ultimamente tenho ouvido música clássica no caminho de ida e volta ao trabalho depois de um destempero no trânsito injustificável. Não para que me acalme e enfrente tipo assim yoga auditiva, os monstrinhos e monstrinhas atrás dos volantes, mas para me lembrar que existe o belo, o bom, o mágico, o ideal e que eu NÃO faço parte desse ódio coletivo megalópolo . E músicas dos anos em que descobria coisas, como quando ia ouvir compactos simples na casa da Bartira na Arthur de Azevedo que hoje virou um big prédio classe AAA. O que terá sido feito de Bartira, colega de primário e ginásio? As casas em Pinheiros eram tão bonitinhas... a Arthur de Azevedo era repleta de pequenas grandes casas. E árvores. A Porta da frente não fazia juz ao lado de dentro, enormes, pés direitos altos, cômodos grandes, mais de uma sala, taco e sinteco no chão na maioria.
"Sound and Vison" estão presentes desde sempre. A memória que me traz e faz feliz. Outro dia, caminhando pelas ruas de Pinheiros, com tudo transformado, ainda assim me emocionei pisando nas calçadas que sustentaram minhas idas e vindas da infância à maturidade, no melhor período da minha vida (sem interrupções). Você não se questiona às vezes sobre som e visão?

terça-feira, 26 de junho de 2012

OMG!


domingo, 24 de junho de 2012

Needing

REZA (Rita Lee)

Deus me proteja da sua inveja
Deus me defenda da sua macumba
Deus me salve da sua praga
Deus me ajude da sua raiva
Deus me imunize do seu veneno
Deus me poupe do seu fim
 
 
 Deus me acompanhe
Deus me ampare
Deus me levante
Deus me dê força
 
 
Deus me perdôe por querer
Que Deus me livre e guarde de você

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Pessoa Nefasta

 Porque orquídeas nascem de um "toco podre" como diria meu pai. Queridas orquídeas da minha vida, obrigada por escolherem meu jardim para florescer.

Há algumas versões que explicam a inspiração de Gilberto Gil ao compor "Pessoa Nefasta" na década de 80. Embora todos quiséssemos saber de quem se tratava, amigos ácidos afirmavam categoricamente que aquele político tinha a cara da música. Outros acreditavam ter o nosso ex-ministro entrado em contato com a  natureza humana personificada. Daí o título do álbum: "A Raça Humana", um dos seus melhores.
Eu, particularmente acho que a segunda opção justifica a primeira e que Gil deve ter se exorcizado cada vez que cantou essa canção. Quem já viu, sabe sobre. "Pessoa Nefasta" é uma oração às avessas, um mantra que alivia e vinga com as palavras certas. Isso. Essa canção é como uma vingança que deseja que a nefasta em questão vá longe com o seu astral que se arrasta no chão; que se torne bagaço, pedaço de tábua no mar em dias após dias boiando sem destino nenhum. Diz que tem a aura da besta, a alma bissexta e cara de cão. E pede: "reza! chama pelo teu guia! dobra seu joelho cem vezes!".

Quem poderia dizer que quando urrávamos orgulhosos com Gilberto Gil sobre o caráter duvidoso de um político, dançando sob luzes coloridas e estroboscópicas, "Pessoa Nefasta" nos serviria hoje como expurgo de nossos iguais?
Quem nos anos 80, em sã consciência, teria permitido essa política praticada nos dias de hoje, se soubesse?  Nos 80, nós éramos jovens e vimos um partido nascer do povo - o PT - e nele jogamos o sonho e confiança de um país melhor. Hoje, o sonho chegou ao fim. Acordamos. The Dream is Over. E desistimos da política elegendo palhaços e saladas de frutas. Temos que lidar com a gente ruim que esse país produziu nesses anos todos. A falta de educação e ética transmutou os brasileiros, dando-lhes línguas enooormes e um vocabulário pobre. Há muitas pessoas nefastas. Olhe em volta. Por isso precisamos de irmãos. Porque hoje, nefastos e funéreos jorram do oco subsolo fétido de uma cidade grande. Falta respeito, mas tanto respeito que, sinceramente não sei se verei ainda nesta vida. Que minha filha e seus filhos e os filhos dos seus filhos consigam é o que desejo.

Mas há o bom, há o bem. Sempre haverá de haver. Cultivar essas pessoas, amigos novos e antigos, tanto faz, é um ofício delicado, dadivoso e extremamente gratificante. Porque orquídeas nascem de um "toco podre" como diria meu pai. Queridas orquídeas da minha vida, obrigada por escolherem meu jardim para florescer.


segunda-feira, 11 de junho de 2012

O PROGRAMA DE TELEVISÃO

Publicado pela EDUSP em 1978, na época já era um livro raro. 

Indicado por um professor (sorry, Sir, I don't remember you), foi por mim devorado em poucos dias e consultado durante anos. Hoje é pesquisa e história diante da translouca alucinada evolução tecnológica. Aprendi a fazer televisão assim. Na lida, quando estagiava na TV Cultura com 17 anos; no primeiro semestre de Comunicação Social na FAAP e com este livro. É muito interessante perceber que o contexto não mudou significativamente. Falo de conteúdo. Ou melhor, da forma de conceber o conteúdo; porque conteúdo nos dias de hoje nem é mais discutível. É quase unânime. A falta de afeição pelos programas exibidos na TV aberta é diretamente proporcional à péssima qualidade da programação. Até a majestosa Rede Globo dá seus escorregões, ao mesmo tempo que produz peças incríveis. Está uma TV plural, coerente na capa e tratamento de seus produtos com relação à qualidade, mas tem programa pra todos os gostos.
Penso que "a forma de conceber conteúdo" não mudou por razões que aliviam o constrangimento atual de quem trabalha na área, como o fato de os profissionais - a despeito de toda tecnologia - serem criativos; de autores arrojados; Diretores com sede de assinar bons projetos. E leis. Leis que podem mudar tudo. Como ensina o professor de Direito no filme "O Leitor", mais ou menos assim: achamos que vivemos e somos guiados pela moralidade. Não é verdade. Somos guiados por leis. O que era errado antes pode não ser mais hoje, simplesmente porque está na lei. Trocando em miúdos brasileiros, guardando as devidas proporções e entendimentos, é o que diz Raul: Faz o que tu queres porque é tudo da lei.
Pois, então, vejam o questionamento dos autores Edward Stasheff, Rudy Bretz, John Gartley e Lynn Gartley.  Traduzido e prefaciado por Luiz Antonio Monteiro Simões de Carvalho. Olhem e leiam essa página. Reli hoje. Adorei. Faz pensar que há  fresnéis, softs e contras no túnel, em sua extensão. 

Ano: 1978
TV: Uma Arte Tecnológica

Luiz Antonio, ainda no Prefácio do livro: Aquele que alguma vez já esteve dentro de um estúdio deve ter sentido o impacto dos múltiplos interesses a atender, dos muitos desafios a responder. A comunicação verbal, a ação dramática, a fotografia,  o filme e a arte cênica integram simultaneamente o processo. Através da luz, do som e do movimento, estas formas assumem reralismo e simbolismo, com maior ou menor intensidade, conjugam-se no grande mosaico da televisão. É preciso re-conhecê-los. É necessário re-ver e re-pensar a TV. Uma abordagem firme de princípios este livro traz. O resto depende de você.

Assim era o início da decupagem de um script.

Resumo da Ópera: fazer TV não é fácil como parece. Não é simples como parece. Fazer TV de verdade requer muito conhecimento, estudo, prática e entendimento da sua história. A questão é: who cares? Para quem é feita a TV de hoje? O que é a TV de hoje? O público que não questiona, aceita. Critica, sim. Participa, sim. Cansei de atender telefonemas de telespectadores nas redações por onde passei arrogantes, como se fossem sócios (leia-se: "vocês precisam da minha audiência, então vou falar o que quiser!"). Jorravam críticas e palavras de baixo calão. Quando trouxemos o pessoal do Casseta e Planeta no lançamento de seu primeiro bolachão de vinil (se não engano primeiro e último), com o Bussunda extra-cabeludo cantando "mãe é mãe, paca é paca. Mulher é tudo vaca", houve uma revolução moralista telefônica na produção. Incrível. Mas isso é outra história.  Enquanto a educação não mudar neste país tudo será... simples assim.




domingo, 10 de junho de 2012

Dih Dih Dih Dah Dah Dah Dih Dih Dih


Alguéns que conheci me lembram a mim. O que Alguéns escrevem, a maneira como manuseiam as palavras; o que conhecem, sabem. Não defini se melancolizo ou me contento. Misturatum tutum est. Me lembram a mim escrevendo, criando, construtivisando, concretismozando. É bom. Rita Coolidge, zendoidecida com Joe Cocker na troupe The Mad Dog and de English Man tinha uma cachorra chamada Canina e eu não me lembro quando parei de me reinventar. Nada. Lembro, sim. Mas não digo.
Hoje revi "O Leitor". Me comove bastante, muito mesmo. Logo o dia amanhecerá e as palavras se parecerão mais com a lógica de todos os dias. Bom dia, Senhoras e Senhores. Tenham uma excelente semana, produtiva, criativa, e principalmente, humilde.





terça-feira, 5 de junho de 2012

DIREÇÃO GERAL - o que isso quer dizer?

aguarde... carregando....


Estou revendo os vídeos que fiz. O fato de os "autorais" terem parado no ano de 2009 tem uma explicação médica. Uma fenda na minha linha da vida, alardeada por uma cartomante das casas com portão de ferro na Pompéia nos anos 80 não me preocupou nos anos 80. Ela disse mesmo: "ih... vai demorar pra isso acontecer, muito tempo, muito tempo....". Até chegar o tempo e a bendita acertar. Parei com (quase) tudo. Continuei com (quase) tudo. Agora, revigorada por rostos, olhares e até julgamentos de antes desconhecidos, começo a chafurdar meus textos, roteiros, edições, realizações para trazê-los de volta à luz, revejo o que está implícito e explícito nessas pequenas bobagens, nessas pequenas obras e o que poderiam ter se tornado. Abri uma conta no VIMEO e estão subindo alguns trabalhos em vídeo. 

...aguarde.... carregando.....

Material, equipamento, ajustes no roteiro, roteiro, figurino, sonorização, marcação, ensaio, passar a ação, planos, enquadramentos, sobe som, desce, câmera no chão, discussão, congratulamentos, abraços, caras feias, lágrimas, papéis, rabiscos, troca de idéias, idéias, acordar cedo, dormir tarde, não dormir, procurar ser gentil quando sua cabeça está explodindo, iluminação, fotografia, fingir que está sendo enganado e conseguir o que quer assim mesmo, travelling, boom, tripé hidráulico, steady cam, escolher lentes, escolher elenco, textes de VT, conversas, feelings nothing more than feelings, feeling, ver, refazer, lamentar, ao vivo, VT, insert, montar a matéria mentalmente enquanto grava, cuidado ao falar no ponto, preocupação com ruídos e barulhos,  desafetos, afetos.


.....aguarde..... carregando


É bem TV. Fiz em 2006 pra motivar o pessoal, na época uma equipe muito pequena pra produzir 2 programas: O TV Culinária com Palmirinha Onofre e o Pra Você, com Ione Borges. Como Diretora de ambos, foi um "mimo" para que pudessem lembrar dos momentos bacanas, do que é a delícia de trabalhar em equipe e que loucura é essa profissão. Programas ao vivo, diários!

Ficção e Não Ficção

Esse tem uns 10 megas. Será por isso que aparece que não está disponível? Tem que esperar pra carregar? É isso? Uátafâck?. O link ta aí em cima.

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domingo, 3 de junho de 2012

PORQUE O ESPANHOL NÃO É NOSSA SEGUNDA LÍNGUA?


PORQUE OS JORNALISTAS ESTÃO ADOECENDO MAIS

A pesquisa e a matéria revelam a verdade, sim. É o que está acontecendo. E a violência maior é a de não poder exercer a profissão, digo, vocação. A matéria, de 2010, permanece atual.

Porque Os Jornalistas Estão Adoecendo Mais (Por Elaine Tavares - 24/08/2010)

O psicólogo, professor e pesquisador da Fundação Getúlio Vargas, Roberto Heloani, conseguiu levantar um perfil devastador sobre como vivem os jornalistas e por que adoecem. O trabalho ouviu dezenas de profissionais de São Paulo e Rio de Janeiro, a partir do método de pesquisa quantitativo e qualitativo, envolvendo profissionais de rádio, TV, impresso e assessorias de imprensa. E, apesar da amostragem envolver apenas dois estados brasileiros, o relato imediatamente foi assumido pelos delegados ao Congresso de Santa Catarina – que aconteceu de 23 a 25 de julho – evidenciando assim que esta é uma situação que se expressa em todo o país.
Segundo Heloani, a mídia é um setor que transforma o imaginário popular, cria mitos e consolida inverdades. Uma delas diz respeito à própria visão do que seja o jornalista. Quem vê a televisão, por exemplo, pode criar a imagem deformada de que a vida do jornalista é de puro glamour. A pesquisa de Roberto tira o véu que encobre essa realidade e revela um drama digno de Shakespeare. Deixa claro que, assim como a absoluta maioria é completamente apaixonada pelo que faz, ao mesmo tempo está em sofrimento pelo que faz, o que na prática quer dizer que, amando o jornalismo, eles não se sentem fazendo esse jornalismo que amam, sendo obrigados a realizar outra coisa, a qual odeiam. Daí a doença!
Um dado interessante da pesquisa é que a maioria do pessoal que trabalha no jornalismo é formada por mulheres e, entre elas, a maioria é solteira, pelo simples fato de que é muito difícil encontrar um parceiro que consiga compreender o ritmo e os horários da profissão. Nesse caso, a solidão e a frustração acerca de uma relação amorosa bem sucedida também viram foco de doença.
O aumento da multifunção
Heloani percebeu que as empresas de comunicação atualmente tendem a contratar pessoas mais jovens, provocando uma guerra entre gerações dentro das empresas. Como os mais velhos não tem mais saúde para acompanhar o ritmo frenético imposto pelo capital, os patrões apostam nos jovens, que ainda tem saúde e são completamente despolitizados. Porque estão começando e querem mostrar trabalho, eles aceitam tudo e, de quebra, não gostam de política ou sindicato, o que provoca o enfraquecimento da entidade de luta dos trabalhadores. "Os patrões adoram porque eles não dão trabalho."
Outro elemento importante desta "jovialização" da profissão é o desaparecimento gradual do jornalismo investigativo. Como os jornalistas são muito jovens, eles não têm toda uma bagagem de conhecimento e experiência para adentrar por estas veredas. Isso aparece também no fato de que a procura por universidades tradicionais caiu muito. USP, Metodista ou Cásper Líbero (no caso de São Paulo) perdem feio para as "uni", que são as dezenas de faculdades privadas que assomam pelo país afora. "É uma formação muitas vezes sem qualidade, o que aumenta a falta de senso crítico do jornalista e o torna mais propenso a ser manipulado." Assim, os jovens vão chegando, criando aversão pelos "velhos", fazendo mil e uma funções e afundando a profissão.
Um exemplo disso é o aumento da multifunção entre os jornalistas mais novos. Eles acabam naturalizando a ideia de que podem fazer tudo, filmar, dirigir, iluminar, escrever, editar, blogar etc... A jornada de trabalho, que pela lei seria de cinco horas, nos dois estados pesquisados não é menos que 12 horas. Há um excesso vertiginoso.
Doença é consequência natural
Para os mais velhos, além da cobrança diária por "atualização e flexibilidade", há sempre o estresse gerado pelo medo de perder o emprego. Conforme a pesquisa, os jornalistas estão sempre envolvidos com uma espécie de "plano B", o que pode causa muitos danos a saúde física e mental. Não é sem razão que a maioria dos entrevistados não ultrapasse a barreira dos 20 anos na profissão. "Eles fatalmente adoecem, não aguentam."
O assédio moral que toda essa situação causa não é pouca coisa. Colocados diante da agilidade dos novos tempos, da necessidade da multifunção, de fazer milhares de cursos, de realizar tantas funções, as pessoas reprimem emoções demais, que acabam explodindo no corpo. "Se há uma profissão que abraçou mesmo essa ideia de multifunção foi o jornalismo. E aí, o colega vira adversário. A redação vive uma espécie de terrorismo às avessas."
Conforme Heloani, esta estratégia patronal de exigir que todos saibam um pouco de tudo nada mais é do que a proposta bem clara de que todos são absolutamente substituíveis. A partir daí o profissional vive um medo constante, se qualquer um pode fazer o que ele faz, ele pode ser demitido a qualquer momento. "Por isso os problemas de ordem cardiovascular são muito frequentes. Hoje, Acidentes Vasculares Cerebrais (AVCs) e o fenômeno da morte súbita começam a aparecer de forma assustadora, além da sistemática dependência química".
O trabalho realizado por Roberto Heloani verificou que, nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, 93% dos jornalistas já não tem carteira assinada ou contrato. Isso é outra fonte de estresse. Não bastasse a insegurança laboral, o trabalhador ainda é deixado sozinho em situações de risco nas investigações e até na questão judicial. Premidos por toda essa gama de dificuldades, os jornalistas não têm tempo para a família, não conseguem ler, não se dedicam ao lazer, não fazem atividades físicas, não ficam com os filhos. Com este cenário, a doença é consequência natural.
Transformados em sócios-cotistas
O jornalista ganha muito mal, vive submetido a um ambiente competitivo ao extremo, diante de uma cotidiana falta de estrutura e ainda precisa se equilibrar na corda bamba das relações de poder dos veículos. No mais das vezes, estes trabalhadores não têm vida pessoal e toda a sua interação social só se realiza no trabalho. Segundo Heloani, 80% dos profissionais pesquisados tem estresse e 24,4% estão na fase da exaustão, o que significa que de cada quatro jornalistas, um está prestes a ter de ser internado num hospital por conta da carga emocional e física causada pelo trabalho.
Doenças como síndrome do pânico, angústia e depressão são recorrentes e há os que até pensam em suicídio para fugir desta tortura, situação mais comum entre os homens. O resultado deste quadro aterrador, ao ser apresentado aos jornalistas, levou a uma conclusão óbvia. As saídas que os jornalistas encontram para enfrentar seus terrores já não podem mais ser individuais. Elas não dão conta, são insuficientes.
Para Heloani, mesmo entre os jovens, que se acham indestrutíveis, já se pode notar uma mudança de comportamento na medida em que também vão adoecendo por conta das pressões. "As saídas coletivas são as únicas que podem ter alguma eficácia", diz ele. Quanto a isso, o presidente do Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina, Rubens Lunge, não tem dúvidas. "É só amparado pelo sindicato, em ações coletivas, que os jornalistas encontrarão forças para mudar esse quadro."
Rubens conta da emoção vivida por uma jornalista na cidade de Sombrio, no interior do estado, quando, depois de várias denúncias sobre sobrecarga de trabalho, ele apareceu para verificar. "Ela chorava e dizia, `Não acredito que o sindicato veio´. Pois o sindicato foi e sempre irá porque só juntos podemos mudar tudo isso." Rubens ainda lembra dos famosos pescoções, praticados por jornais de Santa Catarina, que levam os trabalhadores a se internarem nas empresas por quase dois dias, sem poder ver os filhos, submetidos a pressão, sem dormir. "Isso sem contar as fraudes, como as de alguns jornais catarinenses que não têm qualquer empregado. Todos são transformados em sócios-cotistas. Assim, ou se matam de trabalhar, ou não recebem um tostão."