Um dia acreditei que poderia fazer a "corrente do bem".
Alguma coisa me engoliu e depois que fui devidamente digerida e devolvida pra natureza, estou reciclada, capim, renascendo como praga entre uma dentada e outra.
Boa pra reavaliar algumas verdades assimiladas, e uma das verdades mais simpáticas ficou sendo: "o Natal é das crianças".
E é mesmo. Adorava o Natal quando era criança, adorava o Natal quando os meus sobrinhos eram crianças, adorava o Natal quando minha filha era criança. Aí foram todas crescendo em sua respectiva década e o aniversário do Cara foi ficando cada vez menos atraente. As luzes lá fora que antes eram o pó mágico da Sininho, a cada ano vivido e centímetro crescido, transformavam-se em "compre! compre! compre!", decolores.
Aí não dá.
Vai perdendo a graça. Calma, que pior é perder a alegria.
Por quê não dá? Porque tem coisas exclusivas do Natal que faz a gente bodear logo no início do mês.
O coitado do pérú, por exemplo. Só existe no Natal. Durante todo o ano ninguém lembra do perú. Mas ele é o rei do Natal, sucesso de vendas, o preferido de 9 entre 10 ceias, todo recheadão, imponente no centro da mesa.
Outra coisa é a empreitada para recolher mantimentos, produtos de higiene ebrinquedos para os menos favorecidos, como se eles só comecem, tomassem banho ou escovassem os dentes só no Natal! Isso tinha que acontecer todos os dias! Durante todo o ano!
E a epidemia de caixas de sapato forradas de papel de presente com um rasgo no meio onde logo abaixo pode-se ler claramente: "Caixinha de Natal obrigado"?
Como assim, "caixinha de natal obrigado"??
É preciso mais que um décimo-terceiro de um trabalhador para "honrar" todas as caixinhas dos prestadores de serviço que recebem salário durante o ano exatamente para prestar serviço.
Dá até pra acreditar que não é um país de vencedores. Sim, porque se você batalha pra subir na vida, é taxado de todos os lados e formas. E aí vira perdedor, ou contraventor, ou sonegador, ou desertor. Cadê o estímulo pra andar na linha? Ah, falaverdá...
A cada ano também tem uma daquelas novidades desanimadoras como o aquecimento global ou aumento dos impostos já absurdos. E as TVs parecem fazer as retrospectivas do ano para suicidas. Pra que ver tanta tragédia de novo? E - pior - tudo de uma vez?! Viu? Tudo o que você desejou não aconteceu, bobão. Vai deixar de desejar por causa disso? Nããão, claro que não!
É assim, gente! Não tem jeito! Tem sido assim há anos, e a tendência é aquela que todo o mundo no mínimo já leu em alguma revista: o planeta resite, mas a humanidade, who knows? O homem já tem natureza predadora, mandão, orgulhoso... Já era assim na pedra lascada. Agora que conta em cifras, nem dá pra comentar.
E o que é que a gente vai fazer sobre isso? Comprar uma caixa blaster de kleenex, sentar na frente da TV derramando cântaros de tristeza e agonia?
Acho que não. Por favor, não. Porque sua energia unida à outras na mesma sintonia, cria uma onda que pode influenciar mais pessoas a entristecer, a se angustiar. Como o contrário também vale, a gente que não curte mais tanto o Natal assim, bem que podia se ajudar, né?
Vibrar positivamente e atrair uma onda boa, leve, otimista... como uma paixão faz com a gente. O mundo pode estar acabando, mas se estamos apaixonados, tudo é cor e alegria.
Vamos nos namorar um pouco. É difícil, mas desde que ouvi esse conselho, tenho tentado e tem minimizado efeitos que poderiam ser desastrosos.
Vamos, lá: é Natal, que saco. Quanta correria, quanto presente, quantos pedidos, quanta gente, quanta tragédia, quanta agitação, quanto compromisso! Aaarrhhg! Mas, passa! Há de passar, e o que fica na gente é a consequência de ter "apanhado" bastante durante este mês.
Não quero mais entristecer no Natal. Quero ter o controle dessa sensação, quero festejar como festejamos no meio do ano um aniversário de amigo, uma confraternização.
Não quero mais aceitar essa chatice.
Não quero mais bombardeio de notícias ruins e trágicas. As notícias falam do problema e nunca destacam a solução. É pra gente pensar que não tem solução?
Sem hipocrisia, mas cheia de boas intensões (não me venha falar de inferno!), vamos tentar mudar esse clima, vá... Eu topo!
Feliz Natal.