quinta-feira, 28 de junho de 2012

SOUND AND VISION

"Sound and Vision" é o título de uma canção de David Bowie do álbum de mesmo nome, se não me engano.  Podemos googar e ter certeza inclusive da data: 1976-1977. Diz o refrão: "você não se questiona às vezes sobre som e visão?". Sim, o tempo todo. Som e imagem são umas das partes mais importantes de mim. Antes mesmo de me tornar e ser. Tudo que estivesse relacionado às cores e canções, juntos ou separados, pequenos ou grandes, obras primas ou rudimentares sempre foi por mim sorvido como um combustível, como um alívio, prazer, deleite, dever, desejo, calma, alegria, crítica, desabafo.
Sound And Vision (David Bowie - 1977)
Som na caixa!
Naturalmente assim. Simples assim. Outras partes importantes de mim precisam de sound and vision para a materialização. Um texto, crônica, livro ou roteiro por exemplo. Nascem do story board que se forma no intelecto e transforma. Quando não é assim, é sentimento puro sem filtro, o que é um perigo. Guardemos esta parte em cadernos de anotações, não em computadores vulneráveis. Outras partes importantes de mim. Como já disse (acho que disse), sou plural, não radical. Quando vejo trabalhos bem feitos me faz um bem! Livros, Filmes, Peças, Músicas... Ultimamente tenho ouvido música clássica no caminho de ida e volta ao trabalho depois de um destempero no trânsito injustificável. Não para que me acalme e enfrente tipo assim yoga auditiva, os monstrinhos e monstrinhas atrás dos volantes, mas para me lembrar que existe o belo, o bom, o mágico, o ideal e que eu NÃO faço parte desse ódio coletivo megalópolo . E músicas dos anos em que descobria coisas, como quando ia ouvir compactos simples na casa da Bartira na Arthur de Azevedo que hoje virou um big prédio classe AAA. O que terá sido feito de Bartira, colega de primário e ginásio? As casas em Pinheiros eram tão bonitinhas... a Arthur de Azevedo era repleta de pequenas grandes casas. E árvores. A Porta da frente não fazia juz ao lado de dentro, enormes, pés direitos altos, cômodos grandes, mais de uma sala, taco e sinteco no chão na maioria.
"Sound and Vison" estão presentes desde sempre. A memória que me traz e faz feliz. Outro dia, caminhando pelas ruas de Pinheiros, com tudo transformado, ainda assim me emocionei pisando nas calçadas que sustentaram minhas idas e vindas da infância à maturidade, no melhor período da minha vida (sem interrupções). Você não se questiona às vezes sobre som e visão?

terça-feira, 26 de junho de 2012

OMG!


domingo, 24 de junho de 2012

Needing

REZA (Rita Lee)

Deus me proteja da sua inveja
Deus me defenda da sua macumba
Deus me salve da sua praga
Deus me ajude da sua raiva
Deus me imunize do seu veneno
Deus me poupe do seu fim
 
 
 Deus me acompanhe
Deus me ampare
Deus me levante
Deus me dê força
 
 
Deus me perdôe por querer
Que Deus me livre e guarde de você

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Pessoa Nefasta

 Porque orquídeas nascem de um "toco podre" como diria meu pai. Queridas orquídeas da minha vida, obrigada por escolherem meu jardim para florescer.

Há algumas versões que explicam a inspiração de Gilberto Gil ao compor "Pessoa Nefasta" na década de 80. Embora todos quiséssemos saber de quem se tratava, amigos ácidos afirmavam categoricamente que aquele político tinha a cara da música. Outros acreditavam ter o nosso ex-ministro entrado em contato com a  natureza humana personificada. Daí o título do álbum: "A Raça Humana", um dos seus melhores.
Eu, particularmente acho que a segunda opção justifica a primeira e que Gil deve ter se exorcizado cada vez que cantou essa canção. Quem já viu, sabe sobre. "Pessoa Nefasta" é uma oração às avessas, um mantra que alivia e vinga com as palavras certas. Isso. Essa canção é como uma vingança que deseja que a nefasta em questão vá longe com o seu astral que se arrasta no chão; que se torne bagaço, pedaço de tábua no mar em dias após dias boiando sem destino nenhum. Diz que tem a aura da besta, a alma bissexta e cara de cão. E pede: "reza! chama pelo teu guia! dobra seu joelho cem vezes!".

Quem poderia dizer que quando urrávamos orgulhosos com Gilberto Gil sobre o caráter duvidoso de um político, dançando sob luzes coloridas e estroboscópicas, "Pessoa Nefasta" nos serviria hoje como expurgo de nossos iguais?
Quem nos anos 80, em sã consciência, teria permitido essa política praticada nos dias de hoje, se soubesse?  Nos 80, nós éramos jovens e vimos um partido nascer do povo - o PT - e nele jogamos o sonho e confiança de um país melhor. Hoje, o sonho chegou ao fim. Acordamos. The Dream is Over. E desistimos da política elegendo palhaços e saladas de frutas. Temos que lidar com a gente ruim que esse país produziu nesses anos todos. A falta de educação e ética transmutou os brasileiros, dando-lhes línguas enooormes e um vocabulário pobre. Há muitas pessoas nefastas. Olhe em volta. Por isso precisamos de irmãos. Porque hoje, nefastos e funéreos jorram do oco subsolo fétido de uma cidade grande. Falta respeito, mas tanto respeito que, sinceramente não sei se verei ainda nesta vida. Que minha filha e seus filhos e os filhos dos seus filhos consigam é o que desejo.

Mas há o bom, há o bem. Sempre haverá de haver. Cultivar essas pessoas, amigos novos e antigos, tanto faz, é um ofício delicado, dadivoso e extremamente gratificante. Porque orquídeas nascem de um "toco podre" como diria meu pai. Queridas orquídeas da minha vida, obrigada por escolherem meu jardim para florescer.


segunda-feira, 11 de junho de 2012

O PROGRAMA DE TELEVISÃO

Publicado pela EDUSP em 1978, na época já era um livro raro. 

Indicado por um professor (sorry, Sir, I don't remember you), foi por mim devorado em poucos dias e consultado durante anos. Hoje é pesquisa e história diante da translouca alucinada evolução tecnológica. Aprendi a fazer televisão assim. Na lida, quando estagiava na TV Cultura com 17 anos; no primeiro semestre de Comunicação Social na FAAP e com este livro. É muito interessante perceber que o contexto não mudou significativamente. Falo de conteúdo. Ou melhor, da forma de conceber o conteúdo; porque conteúdo nos dias de hoje nem é mais discutível. É quase unânime. A falta de afeição pelos programas exibidos na TV aberta é diretamente proporcional à péssima qualidade da programação. Até a majestosa Rede Globo dá seus escorregões, ao mesmo tempo que produz peças incríveis. Está uma TV plural, coerente na capa e tratamento de seus produtos com relação à qualidade, mas tem programa pra todos os gostos.
Penso que "a forma de conceber conteúdo" não mudou por razões que aliviam o constrangimento atual de quem trabalha na área, como o fato de os profissionais - a despeito de toda tecnologia - serem criativos; de autores arrojados; Diretores com sede de assinar bons projetos. E leis. Leis que podem mudar tudo. Como ensina o professor de Direito no filme "O Leitor", mais ou menos assim: achamos que vivemos e somos guiados pela moralidade. Não é verdade. Somos guiados por leis. O que era errado antes pode não ser mais hoje, simplesmente porque está na lei. Trocando em miúdos brasileiros, guardando as devidas proporções e entendimentos, é o que diz Raul: Faz o que tu queres porque é tudo da lei.
Pois, então, vejam o questionamento dos autores Edward Stasheff, Rudy Bretz, John Gartley e Lynn Gartley.  Traduzido e prefaciado por Luiz Antonio Monteiro Simões de Carvalho. Olhem e leiam essa página. Reli hoje. Adorei. Faz pensar que há  fresnéis, softs e contras no túnel, em sua extensão. 

Ano: 1978
TV: Uma Arte Tecnológica

Luiz Antonio, ainda no Prefácio do livro: Aquele que alguma vez já esteve dentro de um estúdio deve ter sentido o impacto dos múltiplos interesses a atender, dos muitos desafios a responder. A comunicação verbal, a ação dramática, a fotografia,  o filme e a arte cênica integram simultaneamente o processo. Através da luz, do som e do movimento, estas formas assumem reralismo e simbolismo, com maior ou menor intensidade, conjugam-se no grande mosaico da televisão. É preciso re-conhecê-los. É necessário re-ver e re-pensar a TV. Uma abordagem firme de princípios este livro traz. O resto depende de você.

Assim era o início da decupagem de um script.

Resumo da Ópera: fazer TV não é fácil como parece. Não é simples como parece. Fazer TV de verdade requer muito conhecimento, estudo, prática e entendimento da sua história. A questão é: who cares? Para quem é feita a TV de hoje? O que é a TV de hoje? O público que não questiona, aceita. Critica, sim. Participa, sim. Cansei de atender telefonemas de telespectadores nas redações por onde passei arrogantes, como se fossem sócios (leia-se: "vocês precisam da minha audiência, então vou falar o que quiser!"). Jorravam críticas e palavras de baixo calão. Quando trouxemos o pessoal do Casseta e Planeta no lançamento de seu primeiro bolachão de vinil (se não engano primeiro e último), com o Bussunda extra-cabeludo cantando "mãe é mãe, paca é paca. Mulher é tudo vaca", houve uma revolução moralista telefônica na produção. Incrível. Mas isso é outra história.  Enquanto a educação não mudar neste país tudo será... simples assim.




domingo, 10 de junho de 2012

Dih Dih Dih Dah Dah Dah Dih Dih Dih


Alguéns que conheci me lembram a mim. O que Alguéns escrevem, a maneira como manuseiam as palavras; o que conhecem, sabem. Não defini se melancolizo ou me contento. Misturatum tutum est. Me lembram a mim escrevendo, criando, construtivisando, concretismozando. É bom. Rita Coolidge, zendoidecida com Joe Cocker na troupe The Mad Dog and de English Man tinha uma cachorra chamada Canina e eu não me lembro quando parei de me reinventar. Nada. Lembro, sim. Mas não digo.
Hoje revi "O Leitor". Me comove bastante, muito mesmo. Logo o dia amanhecerá e as palavras se parecerão mais com a lógica de todos os dias. Bom dia, Senhoras e Senhores. Tenham uma excelente semana, produtiva, criativa, e principalmente, humilde.





terça-feira, 5 de junho de 2012

DIREÇÃO GERAL - o que isso quer dizer?

aguarde... carregando....


Estou revendo os vídeos que fiz. O fato de os "autorais" terem parado no ano de 2009 tem uma explicação médica. Uma fenda na minha linha da vida, alardeada por uma cartomante das casas com portão de ferro na Pompéia nos anos 80 não me preocupou nos anos 80. Ela disse mesmo: "ih... vai demorar pra isso acontecer, muito tempo, muito tempo....". Até chegar o tempo e a bendita acertar. Parei com (quase) tudo. Continuei com (quase) tudo. Agora, revigorada por rostos, olhares e até julgamentos de antes desconhecidos, começo a chafurdar meus textos, roteiros, edições, realizações para trazê-los de volta à luz, revejo o que está implícito e explícito nessas pequenas bobagens, nessas pequenas obras e o que poderiam ter se tornado. Abri uma conta no VIMEO e estão subindo alguns trabalhos em vídeo. 

...aguarde.... carregando.....

Material, equipamento, ajustes no roteiro, roteiro, figurino, sonorização, marcação, ensaio, passar a ação, planos, enquadramentos, sobe som, desce, câmera no chão, discussão, congratulamentos, abraços, caras feias, lágrimas, papéis, rabiscos, troca de idéias, idéias, acordar cedo, dormir tarde, não dormir, procurar ser gentil quando sua cabeça está explodindo, iluminação, fotografia, fingir que está sendo enganado e conseguir o que quer assim mesmo, travelling, boom, tripé hidráulico, steady cam, escolher lentes, escolher elenco, textes de VT, conversas, feelings nothing more than feelings, feeling, ver, refazer, lamentar, ao vivo, VT, insert, montar a matéria mentalmente enquanto grava, cuidado ao falar no ponto, preocupação com ruídos e barulhos,  desafetos, afetos.


.....aguarde..... carregando


É bem TV. Fiz em 2006 pra motivar o pessoal, na época uma equipe muito pequena pra produzir 2 programas: O TV Culinária com Palmirinha Onofre e o Pra Você, com Ione Borges. Como Diretora de ambos, foi um "mimo" para que pudessem lembrar dos momentos bacanas, do que é a delícia de trabalhar em equipe e que loucura é essa profissão. Programas ao vivo, diários!

Ficção e Não Ficção

Esse tem uns 10 megas. Será por isso que aparece que não está disponível? Tem que esperar pra carregar? É isso? Uátafâck?. O link ta aí em cima.

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domingo, 3 de junho de 2012

PORQUE O ESPANHOL NÃO É NOSSA SEGUNDA LÍNGUA?


PORQUE OS JORNALISTAS ESTÃO ADOECENDO MAIS

A pesquisa e a matéria revelam a verdade, sim. É o que está acontecendo. E a violência maior é a de não poder exercer a profissão, digo, vocação. A matéria, de 2010, permanece atual.

Porque Os Jornalistas Estão Adoecendo Mais (Por Elaine Tavares - 24/08/2010)

O psicólogo, professor e pesquisador da Fundação Getúlio Vargas, Roberto Heloani, conseguiu levantar um perfil devastador sobre como vivem os jornalistas e por que adoecem. O trabalho ouviu dezenas de profissionais de São Paulo e Rio de Janeiro, a partir do método de pesquisa quantitativo e qualitativo, envolvendo profissionais de rádio, TV, impresso e assessorias de imprensa. E, apesar da amostragem envolver apenas dois estados brasileiros, o relato imediatamente foi assumido pelos delegados ao Congresso de Santa Catarina – que aconteceu de 23 a 25 de julho – evidenciando assim que esta é uma situação que se expressa em todo o país.
Segundo Heloani, a mídia é um setor que transforma o imaginário popular, cria mitos e consolida inverdades. Uma delas diz respeito à própria visão do que seja o jornalista. Quem vê a televisão, por exemplo, pode criar a imagem deformada de que a vida do jornalista é de puro glamour. A pesquisa de Roberto tira o véu que encobre essa realidade e revela um drama digno de Shakespeare. Deixa claro que, assim como a absoluta maioria é completamente apaixonada pelo que faz, ao mesmo tempo está em sofrimento pelo que faz, o que na prática quer dizer que, amando o jornalismo, eles não se sentem fazendo esse jornalismo que amam, sendo obrigados a realizar outra coisa, a qual odeiam. Daí a doença!
Um dado interessante da pesquisa é que a maioria do pessoal que trabalha no jornalismo é formada por mulheres e, entre elas, a maioria é solteira, pelo simples fato de que é muito difícil encontrar um parceiro que consiga compreender o ritmo e os horários da profissão. Nesse caso, a solidão e a frustração acerca de uma relação amorosa bem sucedida também viram foco de doença.
O aumento da multifunção
Heloani percebeu que as empresas de comunicação atualmente tendem a contratar pessoas mais jovens, provocando uma guerra entre gerações dentro das empresas. Como os mais velhos não tem mais saúde para acompanhar o ritmo frenético imposto pelo capital, os patrões apostam nos jovens, que ainda tem saúde e são completamente despolitizados. Porque estão começando e querem mostrar trabalho, eles aceitam tudo e, de quebra, não gostam de política ou sindicato, o que provoca o enfraquecimento da entidade de luta dos trabalhadores. "Os patrões adoram porque eles não dão trabalho."
Outro elemento importante desta "jovialização" da profissão é o desaparecimento gradual do jornalismo investigativo. Como os jornalistas são muito jovens, eles não têm toda uma bagagem de conhecimento e experiência para adentrar por estas veredas. Isso aparece também no fato de que a procura por universidades tradicionais caiu muito. USP, Metodista ou Cásper Líbero (no caso de São Paulo) perdem feio para as "uni", que são as dezenas de faculdades privadas que assomam pelo país afora. "É uma formação muitas vezes sem qualidade, o que aumenta a falta de senso crítico do jornalista e o torna mais propenso a ser manipulado." Assim, os jovens vão chegando, criando aversão pelos "velhos", fazendo mil e uma funções e afundando a profissão.
Um exemplo disso é o aumento da multifunção entre os jornalistas mais novos. Eles acabam naturalizando a ideia de que podem fazer tudo, filmar, dirigir, iluminar, escrever, editar, blogar etc... A jornada de trabalho, que pela lei seria de cinco horas, nos dois estados pesquisados não é menos que 12 horas. Há um excesso vertiginoso.
Doença é consequência natural
Para os mais velhos, além da cobrança diária por "atualização e flexibilidade", há sempre o estresse gerado pelo medo de perder o emprego. Conforme a pesquisa, os jornalistas estão sempre envolvidos com uma espécie de "plano B", o que pode causa muitos danos a saúde física e mental. Não é sem razão que a maioria dos entrevistados não ultrapasse a barreira dos 20 anos na profissão. "Eles fatalmente adoecem, não aguentam."
O assédio moral que toda essa situação causa não é pouca coisa. Colocados diante da agilidade dos novos tempos, da necessidade da multifunção, de fazer milhares de cursos, de realizar tantas funções, as pessoas reprimem emoções demais, que acabam explodindo no corpo. "Se há uma profissão que abraçou mesmo essa ideia de multifunção foi o jornalismo. E aí, o colega vira adversário. A redação vive uma espécie de terrorismo às avessas."
Conforme Heloani, esta estratégia patronal de exigir que todos saibam um pouco de tudo nada mais é do que a proposta bem clara de que todos são absolutamente substituíveis. A partir daí o profissional vive um medo constante, se qualquer um pode fazer o que ele faz, ele pode ser demitido a qualquer momento. "Por isso os problemas de ordem cardiovascular são muito frequentes. Hoje, Acidentes Vasculares Cerebrais (AVCs) e o fenômeno da morte súbita começam a aparecer de forma assustadora, além da sistemática dependência química".
O trabalho realizado por Roberto Heloani verificou que, nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, 93% dos jornalistas já não tem carteira assinada ou contrato. Isso é outra fonte de estresse. Não bastasse a insegurança laboral, o trabalhador ainda é deixado sozinho em situações de risco nas investigações e até na questão judicial. Premidos por toda essa gama de dificuldades, os jornalistas não têm tempo para a família, não conseguem ler, não se dedicam ao lazer, não fazem atividades físicas, não ficam com os filhos. Com este cenário, a doença é consequência natural.
Transformados em sócios-cotistas
O jornalista ganha muito mal, vive submetido a um ambiente competitivo ao extremo, diante de uma cotidiana falta de estrutura e ainda precisa se equilibrar na corda bamba das relações de poder dos veículos. No mais das vezes, estes trabalhadores não têm vida pessoal e toda a sua interação social só se realiza no trabalho. Segundo Heloani, 80% dos profissionais pesquisados tem estresse e 24,4% estão na fase da exaustão, o que significa que de cada quatro jornalistas, um está prestes a ter de ser internado num hospital por conta da carga emocional e física causada pelo trabalho.
Doenças como síndrome do pânico, angústia e depressão são recorrentes e há os que até pensam em suicídio para fugir desta tortura, situação mais comum entre os homens. O resultado deste quadro aterrador, ao ser apresentado aos jornalistas, levou a uma conclusão óbvia. As saídas que os jornalistas encontram para enfrentar seus terrores já não podem mais ser individuais. Elas não dão conta, são insuficientes.
Para Heloani, mesmo entre os jovens, que se acham indestrutíveis, já se pode notar uma mudança de comportamento na medida em que também vão adoecendo por conta das pressões. "As saídas coletivas são as únicas que podem ter alguma eficácia", diz ele. Quanto a isso, o presidente do Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina, Rubens Lunge, não tem dúvidas. "É só amparado pelo sindicato, em ações coletivas, que os jornalistas encontrarão forças para mudar esse quadro."
Rubens conta da emoção vivida por uma jornalista na cidade de Sombrio, no interior do estado, quando, depois de várias denúncias sobre sobrecarga de trabalho, ele apareceu para verificar. "Ela chorava e dizia, `Não acredito que o sindicato veio´. Pois o sindicato foi e sempre irá porque só juntos podemos mudar tudo isso." Rubens ainda lembra dos famosos pescoções, praticados por jornais de Santa Catarina, que levam os trabalhadores a se internarem nas empresas por quase dois dias, sem poder ver os filhos, submetidos a pressão, sem dormir. "Isso sem contar as fraudes, como as de alguns jornais catarinenses que não têm qualquer empregado. Todos são transformados em sócios-cotistas. Assim, ou se matam de trabalhar, ou não recebem um tostão."