segunda-feira, 31 de agosto de 2009

O NOVO LÍMPIDO BRADO RETUMBANTE (corrigido)

O novo límpido brado retumbante.


O que aconteceu com Vanusa não foi nada. E se eram efeitos de remédios, está salva. Pior é o que os políticos fazem com nossa história a seco.

Não temos conhecimento se os desmandos e politicagens de caráter irrevogável têm receita médica. Pior, muito pior se for a seco. Difícil aceitar que tanto político desafine, atravesse o samba, reinvente a ópera, desgrace a comédia sem estar sob efeito de remédios para labirintite

No país da impunidade, onde tudo se arquiva, porque não arquivar também o Hino Nacional? Entre críticas, balbúrdias e quá-quá-quás, Vanusa acertou "sem querer querendo" no tom (incrível não ter desafinado durante o processo de reinvenção!) vingando todos nós, brasileiros, com este presente socializado pela internet!

De Gaule falou no século passado que este país não era sério, vamos rir, então. Ou será que tudo o que está acontecendo - em caráter irrevogável - não é chacota com nossa inteligência?

Este é o Hino do momento. Vamos escalar Vanusa para cantar antes dos jogos de futebol ou abertura de eventos oficiais! Combina com as frases famosas perpetuadas pelo Presidente, pelos chefes de gabinetes, presidentes de câmara ou senado, ou já nos esquecemos das bobagens que ouvimos durante quase uma década?

Um país confuso, onde ética só existe nos discursos, no papel e nos conselhos, onde o coronelismo muda de região para região, esta versão do Hino poderia muito bem ser incluída nas cestas básicas e bolsas famílias distribuídas Brasil afora.

No meio de tantos processos arquivados, nós, que somos os patrões dos políticos, temos o direito de arquivar o Hino Nacional sem constrangimento. Mas não em caráter irrevogável, isso não. Um dia nós o "desarquivaremos" e voltaremos a cantar com orgulho de quem se sente representado com o respeito, cidadania e ética que merece.

Chega de política. Alguém pode governar, por favor?

sábado, 22 de agosto de 2009

SEU FARÃO FOI VIAJAR

Em 1987 Seu Farão foi viajar. Era comecinho do ano, verão e carnaval. Dias quentes e vazios com noites repletas de gentes e alegria, como em todos os carnavais. Com o Natal e Reveillon alegrérrimos de 86, 1987 prometia e todos estávamos ansiosos pelo porvir.
Muitos planos e mapas se desenhavam e eu já traçava a rota: primeiro Paris, depois Londres, uns dias na Espanha, Ibiza, umas fotos em Portugal, Bélgica, Marrocos... assim, sem mais nem ordem.

Mas aí o Seu Farão resolveu viajar. Ele não queria, não. Mas foi. Não queria de jeito nenhum. Gostava do cantinho dele, de cerveja, de paparicar o netinho de 1 ano, trabalhar e ler jornal pela manhã. Principalmente aos domingos. Jornal de domingo tomava um tempo do Seu Farão... E não é de tomar tempo quando alguém fica recortando artigos e matérias só pra mostrar pra você o que está acontecendo no mundo? Só pra inteirar, sabe como é? Pra gente conversar, bater papo, trocar idéias e conselhos como fazíamos nas noites.

Mesmo vivendo assim pequeno, seu Farão era grandão, viu? Não era mirrado, não! Era gigantesco, precisava ver! 1 metro e 70 de gigantice pura! Só pra caber aquele coração, Seu Farão tinha mesmo que ser grandão. O coração amanteigado fazia seu Farão chorar ouvindo "Perhaps Love" com Placido Domingo e John Denver mesmo sem entender uma palavra em inglês, enquanto tomava seu copinho de cerveja (um só mesmo). Coração que batia alegre quando se falava em festa. Seu Farão se amarrava numa festa. Dançar era com ele mesmo. Dançar e brincar. Brincar e dançar. E contar piadas, claro.

Pelo menos nos finais de semana, no bar do Mica, embaixo da minha janela, seu Farão reunia gente e contava piada. Quando não tinha gente, era o copinho de cerveja e o jornal que se espalhava no balcão do bar do Mica.

Durante a semana, Seu Farão trabalhava de terno e gravata, de preferência aquele que não amassasse, pra não dar trabalho. Às vezes chegava aborrecido, chateado mesmo. Não conseguia entender a mentira, não aceitava desonestidade. Seu Farão acreditava no que diziam, e quando descobria que era mentira... ficava triste. Mas Seu Farão fez amigos de verdade acreditando nos outros! Eram como irmãos dele. Bonito de ver como se abraçavam emocionados!

Não sei porque ele foi viajar com tanta coisa pra fazer ainda! Seu Farão estava disposto, dispostíssimo à melhorar de vida, a pedir aumento e promoção, sim senhor! Lembro direitinho que uns dias antes da viagem, começou a experimentar várias combinações de ternos calças e camisas pra impressionar o chefe. Começou sério e depois desbancou pra fanfarrice de sempre. À cada troca de roupa, fingia que estava desfilando, fazia micagens e rebolava. Ah, esse Seu Farão...! Escolhemos algumas combinações que ele deixou separadas em cima da cama.

Seu Farão queria dar um basta numa vida toda de sacrifícios e dedicação, nessa luta solitária contra os números e os homens. Ô, se queria. Era hora de aproveitar um pouco, descansar.

Mas aí, ele foi viajar. Vai ver, descansar em outro lugar, né?

Ele não queria. Ninguém queria. Ele dizia: "Minha.. (Minha era eu), faz o que for preciso pra eu ficar aqui, tudo o que for preciso, viu? Eu quero ficar aqui!".

Fizemos o que pudemos, ele mais do que qualquer um.

Mas aí... teve que ir e foi. Viajou.

Foi no dia 23 de Fevereiro de 1987 que Seu Farão foi viajar.

Sabe que eu nunca mais vi matérias de jornal recortadas? E demorei pra ouvir "Perhaps Love" de novo porque dava muita saudade do Seu Farão.

Então a gente resolveu que tinha que cuidar da família como ele sempre cuidou. E ser alegre também. Não ter tanto medo da vida, nem medo de temer a vida. Só depois que ele viajou é que nos demos conta do tamanho do pedaço da gente que viajou com o Seu Farão.

Depois que Seu Farão foi viajar, eu via muita gente na rua parecida com ele e um dia quase chamei: "Pai!" porque, nossa, era igualzinho! Mas eu sabia que ele tinha ido viajar, então não chamei, não.

Pois, é.

De vez em quando a saudade vem mais forte, principalmente quando a gente fica criança de novo, como eu fiquei há uns anos depois que levei um susto desses que a vida dá.

Acho que só hoje aprendi o que Seu Farão ensinou quando vivia conosco: não se magoar à tôa, perdoar, se não puder perdoar, esquecer.

E eu, que tenho tanto à agradecer, desconfio que foi Seu Farão que deu uma forcinha com aquele jeitão dele...
"Vai, Chefe, faz favor... minha caçula ta precisando, dá um jeitinho aí, vai?"
Hehehe... é a cara dele.

Obrigada, Pai. Valeu pela força.

"Perhaps Love" pra todos.





quarta-feira, 19 de agosto de 2009

AME SEU FÍGADO!



Passados uns bons "intas" e "entas" devidamente aniversariados ao longo do final de um século e início de outro, a contemplação e consequente conclusão diante da vida é interessante demais pra ficar presa na caixa craniana com todo o resto que lá habita.

Problemas com pessoa, por exemplo. Aos "inte", amamos tudo e todos. Queremos ser amados, rimos e aprontamos, chegamos de madrugada em casa, pé-ante-pé, fedendo à cigarro alheio, realizados. Ouvimos muita música alta, dançamos, flertamos. Sem imaginar que aquela realidade mudaria. À partir dos "inta", a cobrança que fazemos à nós mesmos aumenta e perdemos um pouco do caminho. Corta! Efeitos especiais, folhas voando, tempo passando, Time Tunel!
Como é que pessoas que têm amigos em comum não resolvem seus problemas entre sí? Mais cedo ou mais tarde a vida há de fazê-los cruzar o mesmo caminho, ir na mesma festa, no mesmo show, no mesmo bar. Por quê fomentar o ódio por conta de peças que a vida prega?

Sempre espero a paz. Não me importa se tenho razão, trago comigo a tranquilidade de um caminho justo, verdadeiro, com todos os erros e acertos que a escolha pela verdade traz. Levarei comigo também a certeza do que serve e não serve para mim. Atitudes que minha linha de conduta e ética não aprovarão jamais. Nada justifica um assassinato, um ato cruel ou o oportunismo cego de políticos da vida cotidiana brigando por poder, dinheiro e certezas fátuas. Pra mim, não dá.

Ninguém erra, não?
Ninguém se decepciona, não?
Ninguém esquece de regar uma plantinha ou de por comida pro cachorro de vez em quando?
É preciso dar a importância devida às coisas. Importância para o que tem importância, relevância para os relevantes, amor aos amantes, tolerância aos teimosos, nunca raiva aos desafetos, nunca alimentar sentimentos negativos que só fazem mal ao nosso próprio fígado.

Ame o seu fígado!

Ah... vamos, vai?


A vida é um presente. Parabéns pra quem percebeu isso a tempo de viver e cultivar verdadeiramente a paz e o amor, não apenas na oratória, mas de fato.

Quanto mais o tempo passa, menor a chance dos que não absorveram experiências crescerem, dificultando o desentortamento deste mundo já tão avariado...

O que pode deve ser deixado de lado.
O mal-entendido deve ser esclarecido.
A coragem e o amor têm que tomar seu lugar de direito nesta vida.

By the way: por aqui está tudo bem, partilhando, amando, construindo, crescendo, vivendo e aprendendo, sempre.

Namastê!

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

MOI ET LA VIE DE MES AMI (repostagem)


Fala-se muito em decoro parlamentar. Eu não sei o que é decoro com um barulho desses enquanto a gente fala. Aqui parece um mercado. Isso aqui representa um país. Nem na televisão, que é popular, se faz isso."
Primeiro discurso na Câmara dos Deputados (06/02/2007)


Ele, um companheiro de trabalho e homem admirável.
Eu - testemunha de polêmicas, contemporânea de atos e frases de um gênio indizível, temperamento oblíquo, de nervo exposto e escancarado; privilegiada com seu respeito, educação, cordialidade e - pasmem se quiserem- generosidade em ensinar, em "trocar", como dizia. Guardarei para sempre o presente de ter partilhado um pouco de sua vida, filosofia, seus olhares únicos, ferinos... Ah, quando aquelas sobrancelhas arqueavam por cima dos óculos... a terra tremia de gozo ou de raiva.
Conviver e trabalhar com Clodovil me fez, no mínimo, questionar posturas, pensar e repensar o que ele queria dizer, onde queria chegar com atitudes aparentemente incoerentes e cruéis. Por quê ele nunca fora cruel comigo? Porque algumas pessoas contavam com sua "tolerância"? Não sei. Mas o que vi e vivi me envaidece. Aprendi muito. Uma contemplação.

Clodovil Hernandes não era "8 ou 80", "ame ou odeie", "aceite ou rejeite". Clodovil era Clodovil e pronto. Quem mais com essa personalidade vemos ou ainda veremos nos próximos tempos? Incomodava, insultava, provocava enlouquecidamente? Sim. Clodovil foi míster em dizer o que não ousávamos e o que não precisava ser dito com elegância gramatical e cinismo únicos. Difícil saber se brincava de fazer sofrer, ou se acreditava que apenas o sofrimento dignificava.
Convivi tempo suficiente para admirar sua franqueza - como o nervo - exposta.
O único e maior prejudicado com suas declarações ácidas de difícil aceitação era ele mesmo. Como ferir uma pessoa que se machuca a sí mesma desta forma? Processos jurídicos e a “lei dos homens” tentavam ordenar as coisas, tomar a “lição” do cidadão de palavras duras. Nunca adiantou. Sem medo, ou com coragem (são duas coisas diferentes), Clodovil sempre disse o que quis para quem quis, inconstante e coerente. Nunca vi Clodovil se "desdizer" ou voltar atrás. De nossa convivência, há muito o que falar. Mas de uma situação me lembro frequentemente: quando ele disse que sabia que não estava certo sempre, mas mesmo errado, seguiria errando até o fim, defendendo o que disse até o fim, porque a palavra havia sido dita. Talvez assim consiga entender atitudes auto-destrutivas e inexplicáveis que tomava vez ou outra... Polêmico e famoso ao ponto de ser uma das personalidades mais imitadas neste país, mais lembradas e discutidas, Clodovil ainda tinha muito a oferecer. Não se conformava de a televisão, com o poder que tem, não levar conhecimento e educação para as pessoas. Seu sonho era transformar, partilhar o que sabia. Nos últimos anos, era uma vontade desesperada, até.
A genialidade não lhe dava o direito de ser grosseiro e ofensivo? Não. Mas comigo nunca foi. Como não foi com muita gente. Havia um entendimento do que as pessoas podiam alcançar e responder. Clodovil cutucava, cutucava mesmo. Talvez sem consciência, por natureza, polemizava, infernizava, xingava, "desopilava" o fígado com autoridade de poucos. Era difícil de conviver. Era uma delícia de conviver.
Escolhia pessoas que lhe servissem à contento. Mais um defeito? Discutível... mais louco é pensar como tais pessoas se sujeitavam à servir ao que não acreditavam. Clodovil parecia ter um “medidor” de fraqueza humana. Sabia em quem podia bater e depois afagar. Cruel. Verdadeiramente cruel. Conheço pessoas que simplesmente odeiam Clodovil Hernandes. Eu preferi absorver, aceitar o que não sabia para aprender mais e sempre.
Gravei um CD com sua voz e canções. Quando recebeu, ouviu - arqueou as sobrancelhas - e disse: "você é muito talentosa, menina..."
Este CD existe e tenho comigo, única edição de uma matriz que não existe mais.

Clodovil tinha um medo, sim. Um único: de morrer e se perder de sua mãe, de não encontrá-la no outro plano. Todos que o amavam torcem para que possam estar juntos hoje.

Com todo o meu respeito, admiração e um único arrependimento: de não ter passado mais tempo ao seu lado. À mim, sua ultima lição: Procure quem ama, partilhe enquanto é tempo de pessoas que cativou e cativaram você. Procure não ter medo, e sobretudo, tenha coragem. E seja o que Deus quiser.

domingo, 2 de agosto de 2009

DIVAGANDO DEVAGAR



Há um certo tempo para as coisas se ajustarem, irem para seus lugares. Como o tempo é senhor de sí e o "quando" não existe pra ele, na maioria das vezes nossos cabelos estão brancos ou caídos quando, finalmente, vemos as coisas se ajustarem.

Mesmo sem o vigor da juventude lamentado por Caetano Veloso numa de suas entrevistas para divulgação do filme "Coração Vagabundo", é sempre bom ver que as coisas vão - sim - para os seus devidos lugares. Aos justus, vale a pena perder ou pintar os cabelos por esse momento.

Vale a pena porque é (repito: para os justos) a afirmação da razão ou do que se desconfiava ser a razão.

Vimos a vida descortinada, finalmente. Máscaras escorregando, forçando o face-a-face evitado, vimos que somos bons, que fomos fiéis aos princípios que nos levaram até tal ponto. Vimos que sofremos às vezes demais por uma justiça tardia.

Vimos que também falhamos, que erramos - e muito. E neste ponto descobrimos nossos sentimentos equivocados por algumas pessoas. E elas também irão para o seus devidos lugares.
Amadurecer dói. Quase ninguém deste século quer.
Mas a dor do conhecimento é transmutada em delícia de ser.

O importante mesmo é as coisas irem para os seus lugares. Como bolinhas de fliperama encaixando-se neste ou aquele buraco, dando ou tirando bônus do entretido.

O que sabemos e adqurimos é nosso e ninguém tira. Nenhum político ou oportunista de plantão se mantém por muito tempo fingindo ser o que não é, saber o que não sabe, aproveitando de situações.

Ainda que apenas nós percebamos, é fundamental que as coisas vão para os seus lugares.
Há um tempo em que não podemos mais viver enganados. Tampouco enganando à nós mesmos. E assim seguimos produzindo vida, ensinamentos, conhecimentos calcados na paz de espírito e consciência tranquila. Ô coisa boa!

E é pra poucos.