quarta-feira, 13 de junho de 2012

Pessoa Nefasta

 Porque orquídeas nascem de um "toco podre" como diria meu pai. Queridas orquídeas da minha vida, obrigada por escolherem meu jardim para florescer.

Há algumas versões que explicam a inspiração de Gilberto Gil ao compor "Pessoa Nefasta" na década de 80. Embora todos quiséssemos saber de quem se tratava, amigos ácidos afirmavam categoricamente que aquele político tinha a cara da música. Outros acreditavam ter o nosso ex-ministro entrado em contato com a  natureza humana personificada. Daí o título do álbum: "A Raça Humana", um dos seus melhores.
Eu, particularmente acho que a segunda opção justifica a primeira e que Gil deve ter se exorcizado cada vez que cantou essa canção. Quem já viu, sabe sobre. "Pessoa Nefasta" é uma oração às avessas, um mantra que alivia e vinga com as palavras certas. Isso. Essa canção é como uma vingança que deseja que a nefasta em questão vá longe com o seu astral que se arrasta no chão; que se torne bagaço, pedaço de tábua no mar em dias após dias boiando sem destino nenhum. Diz que tem a aura da besta, a alma bissexta e cara de cão. E pede: "reza! chama pelo teu guia! dobra seu joelho cem vezes!".

Quem poderia dizer que quando urrávamos orgulhosos com Gilberto Gil sobre o caráter duvidoso de um político, dançando sob luzes coloridas e estroboscópicas, "Pessoa Nefasta" nos serviria hoje como expurgo de nossos iguais?
Quem nos anos 80, em sã consciência, teria permitido essa política praticada nos dias de hoje, se soubesse?  Nos 80, nós éramos jovens e vimos um partido nascer do povo - o PT - e nele jogamos o sonho e confiança de um país melhor. Hoje, o sonho chegou ao fim. Acordamos. The Dream is Over. E desistimos da política elegendo palhaços e saladas de frutas. Temos que lidar com a gente ruim que esse país produziu nesses anos todos. A falta de educação e ética transmutou os brasileiros, dando-lhes línguas enooormes e um vocabulário pobre. Há muitas pessoas nefastas. Olhe em volta. Por isso precisamos de irmãos. Porque hoje, nefastos e funéreos jorram do oco subsolo fétido de uma cidade grande. Falta respeito, mas tanto respeito que, sinceramente não sei se verei ainda nesta vida. Que minha filha e seus filhos e os filhos dos seus filhos consigam é o que desejo.

Mas há o bom, há o bem. Sempre haverá de haver. Cultivar essas pessoas, amigos novos e antigos, tanto faz, é um ofício delicado, dadivoso e extremamente gratificante. Porque orquídeas nascem de um "toco podre" como diria meu pai. Queridas orquídeas da minha vida, obrigada por escolherem meu jardim para florescer.


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