segunda-feira, 28 de setembro de 2009

OH, SWEET MISTERY OF LIFE!

Tenho andado distraído, impaciente e indeciso. Ainda estou confuso, só que agora é diferente. Estou tão tranquilo e tão contente..


Sempre mexi nos meus cabelos. Tenho uma coisa com cabelos, vivo passando a mão neles, um hábito que não sei quando começou.

Uma semana usando peruca foi o suficiente para confrontar minha realidade.

Eu, usando peruca... Por mais fixa que estivesse, a sensação frequente era que ia cair a qualquer instante. Assim eu equilibrei aquele cabelo alheio da mesma maneira como quando minha mãe colocava um livro na minha cabeça para treinar a "boa postura" . Uma semana de pescoço duro, inexpressividade e coluna torta, claro. Além do desconforto, eu sabia que todos sabiam. Tá, eu finjo que tenho cabelo e vocês fingem que acreditam. Uma semana ajeitando daqui, entortando dali... hoje penso como aguentei tanto tempo com a franja na transversal da minha testa.

Um belo dia, no meio do expediente, simplesmente arranquei a peruca e coloquei na minha mesa e disse: "muito prazer, esta sou eu agora!". Não aguentava mais, sabe? Aquele calor, aquele cabelo comprado, aquela coisa fazendo de mim o que eu não era. Não tinha nada a ver comigo, não.

Foi quando voltei a ser eu. Sem cabelos, mas eu.

Por quê estou falando de perucas?
Eu não estou falando de perucas!
O assunto aqui é aparência e falsificação. Falsificação de idéias e ideais, de palavras ditas e escutadas, de conceitos e definições. Tudo falsificado.

Tenho andado distraída, impaciente e indecisa. Esse "estado de ser" me faz observar melhor o espaço a minha volta e as pessoas que ocupam esse espaço. Às vezes vejo coisas tão simples tratadas como tormento que dá pena.

E a eterna preocupação com o julgamento alheio? Ah... não vá me dizer: "eu não ligo pro que os outros pensam" que não é verdade. Mesmo que o que os outros pensem não vá mudar a sua vida, aquela raivazinha que fica quando se percebe que está sendo julgado... sabe qual? Aquela que ninguém assume que sente, sacumé? Então. O simples fato de nos irritarmos com o julgamento alheio já é uma invasão. E somos assim, fazer o quê?

Mas aí vem um cara como Patrick Swayze, dá uma entrevista franca sobre seu estado terminal, rí, quase chora, assume seus medos e sua raiva diante do mundo e a gente pára pra pensar. Por que é que tem que ser assim? Será que conseguiremos "viver e não apenas sobreviver" sem que alguma doença ou tragédia nos force ao que é nosso de direito?
E aí vem a história da peruca, da imagem, de quem se é, o que se fez e como se fez.
Pergunto: alguém se dispõe a acreditar? A arcar com os riscos de acreditar?
Eu quero.
Com muita, muita cautela, mais observadora e exigente. Mas, quero, sim.
Não imagino minha vida sem partilha.

Do you?

Meus cabelos já cresceram há muito tempo. Voltei a mexer neles e agora a risca fica no lugar, sim senhor, como quando minha filha era pequenininha: dormia mexendo nos meus cabelos, uma delícia de carinho. Puro e de verdade.

Meu exercício diário tem sido lembrar desses momentos, alimentar a minha alma.


Tudo com moderação, inclusive a moderação.