domingo, 26 de fevereiro de 2012

Oscar


Houve um tempo em que eu não perdia a cerimônia do Oscar por nada, mas nada mesmo.

Amava tanto o cinema, mas tanto, que me arriscava à perder o dia de trabalho. Até hoje me pergunto porque o Oscar tem que ser aos domingos. E na época em que as entregas eram verdadeiros eventos políticos, que o púlpito servia para erguer bandeiras prós e contras, duravam, no mínimo, 4 ou 5 horas. Nada ficava de fora, nada. Os musicais eram respeitados e todos os concorrentes interpretavam a canção inteira. As homenagens eram lindas, emotivantes... No final dos 70 e início dos 80, os grandes atores e atrizes, os united artists, ainda ferviam, e perder um deles era uma lástima.
Assistia a todos os filmes que concorreriam no mínimo duas vezes. Fazia minhas anotações e me preparava para uma noite sem dormir. Noite de Oscar era sagrada.Tínhamos o cinema ou o teatro político.
Comprávamos brigas que não eram nossas, pelo cinema.
Queríamos viver como se vivia no cinema.
Queríamos estudar e viver de cinema.
Oscar sempre foi um show de TV. A date de um amor impossível, mas muito próximo entre a televisão e o cinema - este muito mais prestigiado e necessitado da enorme promoção que  o Tio Oscar projetava para o mundo. 
Meninos, eu vi: 
- Vanessa Redgrave recebendo a estatueta de melhor atriz por "Julia", pedir pela causa palestina e a entrada do Dorothy Chandler Pavillion ser incendiada por radicais.
- A homenagem a um Charles Chaplin já idoso, aplaudido de pé - raríssimo naqueles dias.
- Sylvester Stalone fingir uma luta com Cassius Clay, o Mohamed Ali)
- Jack Nicholson com uns 60 óculos diferentes por todos esses anos, sentado na primeira fila
- Uma índia receber o Oscar de melhor ator em nome de Marlon Brando
- Dustyn Hoffman criticar a academia ao receber o prêmio por Ray Man - ou seria Tootsie? - se recusando a achar que era melhor que seus colegas, que os critérios estavam errados.
- A última apresentação de Barbra Streisand ser substituída de última hora por Celine Dion, que deu um banho e ganhou o mundo depois disso.
- Cher vestida de mulher aranha, quase nua, cheia de plumas pretas na cabeça, depois de ter recebido um comunicado que os trajes deveriam ser sóbreos e seu cinismo rasgando a boca de lado ao cumprimentar a platéia: "good evening..." e todos aplaudiram, rindo muito. Foi aí que Cher ganhou minha admiração para todo o sempre.
- Shirley Mclaine ganhando seu primeiro Oscar encantadíssima, hiper bem humorada, rindo e chorando, depois de "séculos" sem indicações, sem vencer.
O que mais eu vi?
Um monte de coisas. Situações fantásticas que viravam manchete mundial. Filmes que ficavam um ano em cartaz rendendo, rendendo, rendendo... E eu comprando todas as trilhas sonoras, todas. Tenho uma coleção interessante em vinil brilhante, limpo, com poucos pops e clicks.

Acho que comecei a me desencantar quando os filmes duros de matar e aguentar viraram moda. Não pensei sobre isso. E também o show estava ficando chato, previsível. Muito arrumadinho, certinho, sem emoção. A única coisa legal era ver os atores, as atrizes, o tapete vermelho. Ainda é.

A boa notícia é que, apesar de eu ter desistido de acompanhar a premiação há algum tempo, o cinema americano está com mais conteúdo, mais coragem. Os filmes estão conceituais, valorizando interpretações, roteiros e direção, consequentemente, mais emocionantes, profundos, inteligentes. Até os de ação estão bacanas. Não tem mais aqueles assassinatos com uma coxa de frango cravada no peito do bandido, nem uma serra esmigalhando o chefão da máfia, nem só mocinhos vencendo no final. Estamos falando de Oscar, filmes para vender, blockbusters... qualquer sinalização nessa direção é uma enorme vitória para o mundo.

Este ano não assisti a todos os filmes. Mas, vou.
Independente do resultado. 
Porque eu não deixei de amar o cinema e nunca deixarei. É paixão eterna. Daquelas que adormecem, mas quando reacendem, aquecem o coração e iluminam tudo ao redor.
O Oscar, por mais comercial, manipulador ou wathever, me traz de volta a sensação de sonhar o cinema.
Meu sonho? Pisar no tapete vermelho, participar de uma festa pré ou pós Oscar. Um Golden Globe, cumprimentar Robert Redford no Sundance Festival, um hi! para David Lynch, trabalhar numa produção nacional dando tudo de mim, recebendo tudo pra mim...

E o que é o cinema senão sonhar?

Thank's for that, Uncle Oscar!

Tem tempo - e após assistir um pouco da cerimônia:
Só a presença de Billy Crystal já trouxe um ar nostálgico à cerimônia. A cenografia - baseada em "O Artista", talvez? - também lembrava o tempo em que se abria uma cortina vermelha nos cinemas, revelando a tela como um grande espetáculo (era mágico!). O pique na entrega das estatuetas, os enquadramentos, organização, o casting. Foi bacana.




sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Temporada de Beijaço


Ai, que saudade de carnaval. A gente escolhia um, e com ele passava quatro dias e quatro noites pulando, esperava o dia amanhecer abraçadinhos, íamos para o campo, pra reforçar energias,  leite direto da vaca  nas fazendas amigas, ainda cheia de confete e serpentina grudadas no suor, de mãos dadas, um cuidando do outro, um curtindo - muito - o outro.
Depois o carnaval acabava, passava e a vida voltava ao normal. Era uma delícia. Um namoro rápido, intenso e feliz, como a festa.

Quando leio nos sites: beijo triplo em Salvador, beijou cem no cordão do trio elétrico, beijou porque é balada, competição de amasso domina carnavais, dá uma tristeza... não moral e cívica, nunca. Tristeza porque era tão gostoso namorar só no carnaval, ter um parceiro, curtir. Tristeza imaginando que ninguém é - e não quer ser - de ninguém these days. Uma pena.
A delícia de ser princesa e ter um príncipe fazia parte do ideário carnavalesco. Hoje estamos longe da realeza. O brejo é o mais próximo do castelo que se consegue chegar.

Usem camisinha, cuidado com muvucas e sem violência.
De letrinha em letrinha, alguém há de construir uma frase boa e passar pra frente.

Anyway, tamosaí.
Alalaô!

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

NA ESQUINA DA CRISTIANO COM A ARTHUR

arte: Carmen Farão
As chances do casal de alemães da farmácia ser fugitivo da segunda guerra eram enormes. Ele sentado, quieto, observando tudo em volta, cabelos brancos e óculos fundos, pesados, aros grossos e pretos. O nariz arredondado e grande encaixado entre as bochechas enormes e caídas não deixava dúvida sobre a austeridade com que lidava com a vida.

(....)

Eles eram brancos, vestidos de branco. Quietos. Ele sentado, ela em pé. Ele observando tudo em volta, ela fulminando à todos de cima para baixo.

(...)

Quem teria coragem de entrar ali? Quem comprava naquele lugar? Constantemente nos perguntávamos quem seriam os clientes deles. Imaginávamos reuniões nazistas secretas nos fundos da farmácia quando baixavam a porta de aço. Tínhamos 12, 13 anos... (...)

Uma única vez decidi entrar na farmácia. Um teste de coragem entre amigos. Nunca gostei de ser desafiada. Disse que ia e fui. O cachorro levantou meio corpo e começou a rosnar. (...) Paguei, e o sorriso dela se apagou. Seu olhar dizia: "pronto, já fez o que tinha que fazer. vá embora agora.". Fui. A história ficou.

JACK


UmEstranhoNoNinhoLoboAsBruxasdeEastweeckMelhoréImpossívelAntesdePartirAPromessaConfissõesdeSchmidtAlguémTemQueCederQuestãodeHonraChinatownADifícilArtedeAmarLaçosDeTernuraAHonradoPoderosoPrizziRedsOIluminadoSemDestinoTommyOsInfiltradosBatmanSangueEvinhoOEntardecerDeUmaEstrelaAcertoFinalAChaveDoEnigmaFronteiraDaViolênciaRedsODestinoBateASuaPortaOÚltimoMagnataOGolpedoBaúNumDiaClaroDeVerãoCadaUmViveComoQuerBuscaAlucinadaCaçadosAtéAMorte

I love you, Jack Nicholson.