domingo, 6 de dezembro de 2009

O CONJUNTO DA OBRA

Não é a idade que nos rouba o ímpeto e o arrojo da juventude.
É a impunidade.

O sonho dos vinte anos só morre aos quarenta porque aos "enta" já se apanhou demais de uma sociedade teimosa, moldada em velhos conceitos, persistente e broxante. Aí só nos resta lembrar do que foi, porque o que foi, era esperança do que deveria ter sido.

E ouvimos músicas do "nosso tempo", vídeos de propaganda e brinquedos da "nossa época", adoramos a Benedito Calixto e a Feirinha do Bixiga, passeando entre objetos que um dia manuseamos, lembrando de tempos quando éramos sonhadores ou "felizes sem saber", como preferem alguns. Eu não. Eu sempre soube que era feliz aos 12, 13, 17, 20. Tinha dúvidas e angústias, claro! Me perdia, mas me achava.

A coisa começou a mudar aos 24, com as primeiras constatações de impunidade, os primeiros testemunhos de injustiça. Quando a gente levanta o rosto pra lutar pelo considerado certo, e levamos um tapa estatelante e inesquecível, que nos obriga a baixar a cabeça, engolir o choro e sair de cena. Quando percebemos que o que era certo, não é mais. Quando passamos a precisar mais do que doar.

Não é tão ruim. É diferente. Tudo fica diferente e homeopaticamente, a alegria vai se perdendo, milimetricamente um tiquinho à cada década, pra entrarmos em crise aos 40. Levante o mouse quem não teve a crise dos "enta"!

Tem mais nisso tudo, eu sei. Aliás, uma das piores coisas adquiridas com o tempo é a ponderação. Como é chato ponderar! Como é desgastante pensar em todas as possibilidades antes de uma conclusão! Aos "inte", sim é sim, não é não, e talvez nem existia. Mais prático, direto, objetivo.

Mas aí você poderia estar cometendo uma injustiça!

Será mesmo? Será que o universo não nos avisa através dos sentidos e sinais o que devemos fazer? Será que temos mesmo que suportar o que não faz bem por temer o erro? Será que temos o direito de cometermos injustiça conosco por receio de errar com o outro?
Affe... está provado que só é possível filosofar em alemão.

Longe de mim tanta resposta, tanto questionamento. Só estou pensando como seria bacana facilitar um pouco as coisas aqui pra nós, humanos mortais e imperfeitos, não carregando culpa alheia e sendo honestos com nossos sentimentos, por mais "politicamente incorretos" que possam parecer.

Penso que se não prejudicarmos, não desejarmos e não praticarmos o mal, podemos sim, nos permitir a leveza de aceitar o que sentimos, sem patrulhamento nem vigília.

Quantas vezes virei as costas para meus sentidos...

Contra tantas injustiças batalhei em vão... (ou quase)

Quanto o que perseverei..

Tão difícil - ou mais - quanto perseverar, é testemunhar o injusto. Saber parte de verdades que a ética corporativa não permite partilhar, na eterna espera que o "outro lado" perceba os acontecimentos e realize que não são impressões nem "achismos", mas fatos, ciência exata, realidade. É inglório.

Quando falo em "ética corporativa" quero dizer no sentido de "grupo humano", a corporação humana, não uma empresa. Se bem que também é perfeitamente adequado enquanto organização.

Somos os mesmos de sempre, queridos... Só mais "calejados". Portanto, vamos pra frente, mas sem esquecer de olhar pra trás, que o caminho que trilhamos começou lááááá por lá...

Somos leves, sempre fomos! Deixa que digam, que pensem, que falem! Continuamos leves.

Viva.
(by the way, adoro Faróis)

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