terça-feira, 3 de agosto de 2010

PRÉ-PRO-RADIOATIVIDADE

Esses moços, pobres moços... ah! se soubessem o que eu sei! Não amavam, não passavam aquilo que eu já passei...
Antes que os "aurelianos" de plantão corrijam o português do título por conta das novas regras ortográficas da nossa tão incensada língua portuguesa, eu explico os hífens:

Sou de uma geração privilegiada. Acredito que já tive a oportunidade de partilhar dessa convicção neste espaço, inclusive.

Pois, então: esta minha geração é pró, foi pré, é ativa, radioativa e proativa (esses homens fantásticos e suas definições maravilhosas...). Os hífens fazem parte da interpretação de texto da minha geração. Travessões, exclamações, reticências, acentos agudos e circunflexos, traços e desenhos nos ajudam a compreender a comoção contida na frase. Líamos peças de teatro totalmente marcadas, livros acentuadíssimos e a cena praticamente se materializava diante dos nossos olhos.

Agora vem o século 21, a globalização, a necessidade de ajustarmos a comunicação com o mundo etecétera e talz... Confesso que fiquei confusa durante um período. No meio do campo, sem saber se chutava a bola pra direita, pra esquerda, pra fora ou pro gol. Foi quando decidi parar de sofrer por conta de irrelevâncias da vida. E na minha lista, na idade em que estou, a reforma ortográfica estava me fazendo sofrer porque adoro escrever e não quero errar, como todos nós, não quero ser julgada. Não queria. Agora pode. A reforma ortográfica ficou insofrível pra mim.

Estão explicados os hífens?

Agora ao que me trouxe à este post. Interessante é pensar que quando se passa a contar a vida de dez em dez anos, as conclusões são maravilhosas e extremamente revigorantes. Revigorantes, sim! A gente percebe que nada, absolutamente nada - exceto a saúde e as emoções que nos dão ou tiram a própria - é tão grave e puxado quanto parecia há dez, vinte ou trinta anos atrás.

Isso não é ótimo?

É fantástico! Se nessa época já vivemos mais do que vamos viver daqui pra frente, isso significa que antes se tínhamos a impressão do "sem fim" do tempo e experiências hoje medimos o tempo pela qualidade, merrmão!

Não é maravilhoso?

Se você tem menos de 30 anos, deve estar achando tudo isso um saco. Ou, para meu gáudio e contentamento, não. Se você tem menos de 30 anos, isso é apenas leitura. É bacana ler e lembrar láááá na frente.

Agora, se você é da turma de 62 - menos ou mais - né demais isso??!

Nós fomos testemunhas oculares de muito assunto de rodinha de boteco. A gente tava lá!

Há quem diga que nós, "entões", somos folclóricos e saudosistas, que o nosso tempo é que era bom, e blá, blá, blá. Eu até acho isso mesmo. Quem diz isso hoje é o saudosista de amanhã. Acho que faz parte da vida. Mas, se a tecnologia é a grande responsável por mudanças tão profundas no comportamento humano deste século, o que dizer de quem votou pela primeira vez aos 25? Quem só usou um computador lá pelos 30, 30 e poucos? Quem comprava discos de vinil pela capa pra depois descobrir o som imaginário cheio de "pops e clics"?

Olha, dá uma saudade da sensação de ter um All Star verde importado tão raro e difícil de conseguir naqueles dias... E o cheiro da papelaria quando recebia um lindo e novo papel de carta?

Talvez a diferença entre gerações esteja exatamente aí: a dificuldade de conseguir as coisas mensura o seu valor. Hoje tudo parece muito fácil. Não é mais preciso muita dedicação para ouvir uma música, montar uma compilação, produzir uma festa. Tudo tem aparência de nada, e nada pode ser o melhor que se consiga na vida real.

Quando mensuramos, quando damos valores às coisas, é quando definimos a importância que cada uma delas tem na nossa vida, no nosso meio, nosso trabalho, ofício e prazer.

No fundo, no raso, é como lidamos com todo o resto da nossa vida e como sempre tem sido desde o início dos tempos: a descoberta do bem quando este já se foi... "Esses moços..."

Por isso, ao preencher uma ficha de emprego ou carta de intensões, nós "entões" deveríamos pular qualquer assunto relacionado a "proativo" ou "proatividade". Fomos forjados nessa forma. O que conseguimos e conquistamos é fruto de atitudes proativas de uma vida toda. A criatividade era condição primeira para superar dificuldades e desafios. Nós crescemos assim. E ainda temos uma certa experiência de vida que não é de se desprezar, falaverdá...

Somos pré, pró e radioativos.

That's all, folks!


(sobe vinheta, fecha pano)

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