sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Gay, Filho de Lavradores, Professor do Ensino Médio, Escritor. Salva Vidas de adolescentes que sofrem bullyng;

Aharom Avelino bem de perto. Conheço, sim.
Filho de pais lavradores e analfabetos, Aharom viveu na roça e nasceu assim. Ávido, corajoso, brilhante.
Aos sete anos venceu um concurso na escola rural imitando Gretchen no Melô do Piripipi. Na saída, teve os dedos da mão quebrados por coleguinhas de classe numa longa e dolorosa surra.


Noutro dia, quase afogado no vaso sanitário; mais surras e palavras de baixo calão que Aharom não compreendia. O mundo estava ok para ele, estava tudo certo. Não entendia a agressividade cada dia mais intensa, machucando ao ponto de ser preciso proteção, coisa de Deus, ele diz. Encontrou a biblioteca da escola durante o recreio nos dias de aula. Saia da sala antes de todo o mundo e corria para lá, fugindo dos algozes, onde certamente não iriam, já que podiam brigar no pátio e jogar bola à vontade.. Todos os dias Aharom seguia para seu bunker, a biblioteca. Lá começou a ler o que não estava prescrito por professores. Lá descobriu muitos mundos e sentiu a vocação: escritor.

Saiu do armário, embora a orientação fosse óbvia,  quando dois amigos se suicidaram por não suportar a pressão. Um, aos 16, atendeu ao pedido da mãe: "Prefiro um filho morto do que viado". Enforcou-se no quarto, uma hora antes de encontrar com Aharom e outros amigos para um cineminha em Brasília.

16 anos. Mesma idade que Aharom passou num concurso público para dar aulas. Ficou em segundo lugar, mas ganhou uma escola rural, longe, bem longe das filhas dos protegidos que ganharam escolas na cidade.

Chocado, revoltado, triste, Aharom se viu diante da realidade que seria toda a sua vida: ou fugia e vivia uma vida dupla e hipócrita, ou assumia a orientação sexual e seria feliz, à seu modo. Reuniu os amigos, se
posicionou e muitos o seguiram. Todos fomos ao enterro dele! To-dos, e dando pinta! A mãe teve que nos engolir! Até hoje seus olhos umedecem quando conta do amigo. O que acontece consigo, ele conta rindo. Ri muito. É de bem com a vida esse rapaz. Rir de si mesmo é um dom raro. Uma delícia de conviver, respostas rápidas e sem piedade.

Eu deveria ter horror à escola... no entanto, voltei. Dou aulas de língua portuguesa e literatura para alunos da quinta série. Escola pública. Paguei do meu bolso a única lousa digital da escola, e outro professor adaptou o pincel. Somos chiques, bem!

Aharom talvez não soubesse, mas voltar para escola tinha e tem um propósito: conscientizar pais e principalmente alunos sobre o horror do preconceito, acolher os adolescentes que não têm apoio em casa, os confusos adolescentes que não sabem à quem recorrer, não sabem o que fazer, com quem conversar.
Quando conta como são as conversas com pais de alunos, é delicioso. Sem papas na língua, já abandonou reunião de pais pra não falar coisa pior, já abaixou dedo indicador no seu nariz com a força da palavra e olhar no doubt.

Dar aulas é a missão de Aharom Avelino, ser roteirista de teatro, cinema,  novelas e minisséries, o sonho. Salvar vidas vítimas de bullyng não tem preço. Ensinar, não tem preço. Viver, não tem preço.

Aharom Avelino já viveu tão intensamente que às vezes parece ter mais histórias do que estrada percorrida. E é engraçado. Otimista. Autor de dois livros: Viver Não é Preciso e Não Existe Amor Errado, é um, combatente, merece ser visto, ouvido. Conhecido.

Guarde esse nome. Habituèe assíduo das redes sociais, não teme a exposição. Faz do humor e inteligência sua maior arma à favor da liberdade hoje, no Planalto Central. Amanhã, quem sabe? O mundo, por quê não?


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