terça-feira, 20 de março de 2012

Simone de Beauvoir

No noite em que estávamos mergulhadas naqueles anos 50 e 60, antes do nascimento do novo Movimento de Mulheres, aquele livro ("O Segundo Sexo") foi uma espécie de código secreto que nós, mulheres em via de despertar, passávamos umas às outras. E a pessoa de Simone de Beauvoir, a soma de sua vida e sua obra era - e continua sendo - um símbolo: símbolo da possibilidade, apesar de tudo, mesmo para uma mulher, de levar sua vida com grande parte de autodeterminação, acima dos preceitos e das convenções
Alice Schwarzer, jornalista e escritora nos anos 80

Subitamente tomada pela necessidade de rever, reler e (re)conhecer quem convivi grande parte da adolescência e juventude, e que "deixei passar" em nome do que Simone de Bevouir censuraria veementemente, tenho assaltado o que sobrou de minha estante de livros antes de uma mudança de residência desastrosa, longa e penosa, que distribuiu minha modesta biblioteca entre locais longe de mim. Meus queridos livros, companheiros e "mentores" de uma época que ler nos fazia voar, viajar. Lembro de "Sangue de Coca Cola", de Roberto Drummond, literalmente uma viagem lisérgica sobre a repressão política e sua história no final dos anos 70, meados de 80.

Graças, tenho sobrinhas que lêem e me emprestam um pouco de sua "coleção". São livros amarelados, usados, surrados, lidos, relidos, estudados, talvez comprados em sebos, o que os torna ainda mais importantes para mim. Orgulhosa, Nanda me trouxe o livro de Alice Schwarzer, "Simone de Beauvoir Hoje", uma série de entrevistas com Simone durante dez anos. Este eu não li. E é um dos que estão em minha cabeceira. Já na metade, só faz aumentar meu desejo de chacoalhar o que sei, jogar a peneira para cima, deixar passar a finesse, separar dela as pedrinhas e calcificações que interfererem tanto no que nos predestinamos a ser.

Simone de Beauvoir é atual, estrondosa, aliviante, porta voz. (com ou sem hífem, afinal? Não vou conseguir mudar mais uma vez as regras gramaticais!). Sua coragem, por sí só. Eleger um companheiro para toda a vida, Sartre, com quem conviveu por mais de 50 anos em casas separadas, feminista, aberta, consciente, dona de seus desejos, vontades e senhora de suas convicções.

Obrigada, Nanica (Fernanda Farão, minha sobrinha) por este presente. Por me inspirar a rever o que me transformou no que sou hoje. Começamos com Simone, depois... há tanto!

Vou buscar os outros perdidos, encaixotados esperando uma estante ou "um lugar ao sebo", para que caia em mãos tão preciosas quanto as suas.





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