
Apopléticos brincando de deus, o deus que controla vidas, histórias resistentes de perseverantes - errantes.
Errantes que rezam e rezam e rezam buscando proteção e alento, abnegando-se e desistindo de ser para apenas sobreviver.
Num teste de resistência eterno, o senhor é você que olha e finge que não vê controlando à distância seus admiradores desafortunados.
E o que seria de seu poder sem os desafortunados? Sem os necessitados?
Onde estão os verdadeiros líderes que marcaram à ferro, fogo, suor, cerveja e serpentina uma geração inteira de batas, alpargatas rhoda, óculos de tartaruga, boca de sino, boca do lixo e golas rulê?
Onde estão aqueles livros? Aqueles filmes? Porque histórias estão sendo reescritas e refilmadas?
Era crível - e perfeitamente possível - um mundo melhor em 70; um mundo sintético em 80, um mundo eclético em 90. Fomos cevados e fertilizados com a fé no coração amanteigado, intelectualizado, moldado, acolchoado e decorado para receber iguais nesse conforto sentimental.
Nós que nos desconhecemos. Que soltamos as mãos nos perdendo uns dos outros, desfazendo a ciranda que mantinha nosso sorriso - como o peito - aberto para toda uma gente.
Nós que nos amávamos tanto e não terminamos essa história de amor.
Nós que vivemos dessas histórias mal acabadas e mal resolvidas como sonhos que podem ser retomados ainda nesta vida, somos obrigados a calar diante da diplomacia hipócrita necessária para a convivência e sustento financeiro.
Hoje, com mais vocabulário e vivência, conseguimos definir e até aceitar o pecado inconfessável escondido no interior do interior de nossos desejos.
É muito difícil humanizar a humanidade. Mais poderosa do que nunca! Tecnológica, cibernética, mapeada e chipada, controladora como uma Big Mother sem a mínima culpa.
Programas de TV tentando salvar a fé na espécie, mostram os solidários resgatando almas perdidas, desafortunadas, necessitadas.
Um campeonato mundial de futebol escancarando regimes político-sociais inumanos, pré jurássicos controlados pelos mesmos deuses ao nosso lado, pequenos deuses e seus pequenos poderes e enormes influências em nossas vidas.
Agora me veio à mente a peça "Quem Tem Medo de Itália Fausta com Os Filhos de Dulcina Ricardo Almeida e Mguel Magno que assisti num galpão no início dos anos 80. Fanta Maria e Pandora jogando panfletos para e na platéia. O teatro minúsculo. Dava para sentir o cheiro de pó compacto, da maquiagem e do papel. Foi a primeira vez que vi de perto homens vestidos de mulher fazendo teatro. Foi a primeira vez que me encantei com o teatro divertido, besta e inteligente.
Não sei porque a cena e os cheiros estão aqui.
Talvez eu saiba.
Talvez só acabe quando termine.
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